Escolher filmes de festivais é, para mim, isto. Entrar numa sala
sabendo o mínimo dos mínimos acerca de uma determinada película. Lê-se a
sinopse, com sorte conhece-se o realizador ou já se leu qualquer coisa acerca do
que vamos ver. Não era esse o caso deste John
Dies at the End. Eu não fazia ideia ao que ia.
O apresentador do MoteLx
referiu, na introdução, que se tratava de um filme estranho, uma “trip”. Que o realizador tinha encontrado
o livro, que serve de inspiração, numa daquelas sugestões que a Amazon faz: You like this? Check this one out! Ou qualquer coisa do género. Com
a quantidade de obras disponíveis em quase todas as artes o fator aleatoriedade
é omnipresente em muitas das nossas escolhas. Algo puxa-nos sempre para um outro
algo. Eu gosto disso e, bem vistas as coisas, muitas das escolhas nestes
festivais são feitas da mesma forma. Mas adiante!
John Dies at the End é, de facto, uma “trip” mas
firmemente no bom sentido. Surrealista, sem duvida, faz parte da escola da
colagem de frases e situações aparentemente sem sentido mas que, se
desligar-mos aquela parte do cérebro que procura o sentido, se procurarmos ser
mais poetas e menos cientistas, então aí, de repente, com um clique, começa a surgir um todo coerente. Mesmo que o sentido profundo e real
escape sempre quando estamos quase, quase, quase, a chegar a ele. Mas isso não
interessa para nada, porque do canto do olho conseguimos ver, mesmo ver, do que
se trata. Já agora, é também um filme cheio de humor corrosivo, que soltou as
gargalhadas por detrás dos gritos que se esperam na plateia de um filme de
terror.
A história parece um episódio da série de TV Sobernatural, misturado com um pouco de Scobby-Doo e muita LSD. Digo Sobrenatural
porque os personagens principais são dois rapazes, fisicamente interessantes,
que se envolvem em situações ligadas ao metafísico. O enredo envolve um estranho molho de soja que amplia a qualidade da
percepção como, e parafraseio o filme, “uma antena muito poderosa faz com um
rádio banal”. De repente, o universo flui de forma una, um lago a existir no
mesmo tempo e no mesmo espaço, ao invés de um rio do qual vemos apenas parte, a
da nossa margem. Existe ainda uma entidade de outro universo, um Cthullu com intenções de, claro, governar a
nossa realidade.
Basicamente, um filme que foi uma muito, mesmo muito boa, surpresa. O
que já não posso dizer do Kiss of The
Damned de Xan Cassavetes que, não
sendo mau, também não era nada de extraordinário.
Uma vampira vive sozinha numa mansão situada algures nos subúrbios de
uma cidade do Norte dos EUA. Numa das suas incursões à cidade descobre a
apaixona-se por um mortal, sendo o seu amor reciprocado. Trata-se de uma “boa”
vampira que apenas caça animais para satisfazer o seu apetite e, sem querer
estragar muito mais do enredo, vê-se confrontada com o regresso da sua irmã,
também ela uma filha de Drácula, mas
facínora e psicopata. É mais ou menos isto, com mais um pozinhos aqui e acolá,
umas reflexões, que completam um quadro que, ainda que não ofenda, também não
deslumbra.
Nada que se deva, contudo, às opções estéticas da realizadora, cujo pedigree não a deixa ficar mal (é filha
de John Cassevetes). A câmara da
realizadora consegue o enquadramento que carrega a história para lá da pura banalidade
e reveste-se de um ambiente elegante, ultimamente tão adequado ao mundo dos
vampiros, quer falemos de True Blood,
quer mesmo das aventuras juvenis como Twilight.
Mas ainda que sobrevivam cenas particularmente bem filmadas (as cenas de sexo são
interessantes), existe algo que falta, perdoem o oximoro. Talvez um pouco mais de
sumo, que consiga com que a história não pareça previsível e a leitura de
conceitos de outras paragens e interpretações.
Eu baixo vejam os trailers
dos dois filmes.
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