Há procuras que valem a pena e a documentada por este filme é uma
delas. Sugar Man terá sido um
cantautor (adoro e odeio este termo) da década de 70 que, apesar da qualidade
da suas obras, nunca gozou daq fama que alguns dos seus contemporâneos gozaram.
Era um Bob Dylan, segundo alguns dos
seus produtores e raros ouvintes, melhor que Bob Dylan. Um iconoclasta inconformado, um reformador da sociedade
pela poesia das palavras e da música. Mas um que, infelizmente, não foi reconhecido.
Excepto na África do Sul. Aqui atingiu níveis de relevância e popularidade maiores
os de Elvis Presley. E é neste
paradoxo que reside a alma deste documentário.
Toda a África do Sul, aparentemente, conhecia a música de Rodriguez (o nome do artista), os seus LP
eram obrigatórios nas residências de cada família, as suas letras e as suas
músicas eram censuradas pelo governo e pelas rádios. Mas pouco sabiam da sua
vida e todos pensavam que tinha morrido. Várias eram as lendas que se contavam acerca
da morte, desde suicídio em palco à autoemulação. No entanto, houve quem
quisesse descobrir mais do que a lenda e o rumor reservavam à narrativa, houve
quem quisesse descobrir mais da vida do ídolo. E o que acabam por descobrir é
que ele está, na realidade, vivo e bem vivo, ainda que completamente ignorante
quanto ao seu papel na sociedade sul-africana.
A força da realidade é também a força deste documentário. Nada parece
artificial, ainda que pareça bom demais para ser verdade. Como é que a música,
privada de todos os trajes relacionados com a fama, apenas pela força das suas
palavras, da sua verdade, consegue mudar e influenciar verdadeiramente? Como é
que alguém que vive modestamente perto de Detroit
e do outro lado do mundo, na África do Sul, é ídolo de milhões, graças ao poder
da sua poesia?
Há umas semanas atrás escrevi sobre como, provavelmente, apenas depois
da morte deveremos ser aplaudidos pelos nossos feitos. Rodriguez teve a sorte de o ser ainda em vida, reconhecido como o
tecelão de sons verdadeiramente fortes, no sentido mais puro da palavra. Isso é,
provavelmente, uma das poucas coisas que interessam nesta vida. Quer a verdade seja
forte para uma ou para milhões de pessoas.
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