Before Midnight de Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawke

Passaram-se 18 anos desde o primeiro encontro entre Jesse e Celine numa viagem de comboio pelo interior da Europa. Passaram-se 9 desde o reencontro nas ruas de Paris. Será este filme o fim da trilogia? Até pode ser que sim, mas não o fim da história, como aliás a estrutura narrativa e temporal das três películas atesta. Sim, o tempo passa, inevitavelmente, e a vida (pois, este cliché intransponível) abalroa quaisquer pretensões românticas, metafóricas, alusivas e artísticas. Por mais que a tentemos subverter e adaptar, os minutos que se acumulam são tão fortes quanto a gravidade. É este o contrato que assinamos quando nascemos. Se tudo isto parece trágico, não é. Se tudo isto parece derrotista, também não o é. Se vos pareço realista… não é esse o ponto. O ponto é que as coisas são como são.

Este terceiro filme é, provavelmente, o menos interessante dos três mas, ainda assim, forte o suficiente para ombrear com os seus predecessores (o meu favorito continua a ser o segundo). São duas as palavras que me ocorrem quando vejo qualquer um da trilogia: tempo e relações. 

Tempo, porque passam-se sempre 9 anos entre cada filme. Porque a sua passagem no decorrer dos filmes é de extraordinária importância. Muitas vezes acompanhamos os protagonistas em longos diálogos em tempo real, que sublinham o que de corriqueiro e sublime o lado mais puro da nossa existência pode ter. Mas, enquanto estes dois aspectos são meramente formais, o tempo manifesta-se também de uma forma menos óbvia. 

Existe um diálogo neste terceiro filme, em que Jesse explica que criou vários personagens, no seu mais recente romance, que testemunham de diferentes formas a memória, desde a mulher que se lembra de tudo, ao homem que se esquece de cada pormenor. A memória é a forma de recordarmos o passado, claro, mas também a forma como estruturamos o presente e o futuro. Correndo o risco de parecer banal (mas não sendo), faço a ponte para as relações, especificamente entre homem e mulher, e das diferenças que estão por detrás de cada um, diferenças essas que nos individualizam (graças a deus), que nos atraem e que nos repelem. A forma como cada um dos dois se lembra das coisas, relaciona as memorias, como pensa a passagem do tempo, acaba por estruturar os pensamentos e sentimentos. O que, aliás, é particularmente bem retratado na discussão final entre os personagens: quem é que, tendo namorada, namorado, mulher, marido, amante, nunca passou por uma conversa assim?

Não sabemos o que ocorre a seguir ao escurecer do último plano. Talvez o realizador e os dois actores escolham regressar para outros retratos mas, se ficarmos por aqui, estamos mais que satisfeitos. Acompanhei Jesse e Celine mais ou menos com a mesma idade que cada um tem nos filmes e, portanto, estes acabam por ser um espelho, se não fiel aos eventos, pelo menos aos  sentimentos. E, só por isso (mas não só por isso) foi uma das melhores trilogias que vi até hoje.

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