De Rouille et D'Os de Jacques Audiard


O realizador Jacques Audiard já tinha conseguido no último filme, O Profeta, reunir consenso quanto à sua arte e este Ferrugem e Osso, apesar de não ser uma obra tão conseguida, não deixa de ser notável. Marion Coutillard e Matthias Schonaerts conseguem transpor toda a necessária gravidade imposta pela história que, neste filme, poderia facilmente passar para o melodrama telenovelesco, mas que graças às suas interpretações e à mão de Audiard translada para longe deste terreno movediço.

Coutillard é uma mulher que , em consequência de um acidente de trabalho, perde ambas as pernas, enquanto que o personagem de Schonaerts é um homem sem emprego, divorciado e com um filho, mas dotado de uma desarmante visão prática perante a vida. O motor de arranque da história é o facto deste pragmatismo exacerbado, quase animalesco, ser exatamente aquilo que a mulher necessita nesta altura da vida. É óbvio que ela não precisa que lhe olhem com pena e compreensão. Ela quer que a encarem como um ser humano plenamente funcional, sem limitações, se não tanto físicas, pelo menos emocionais. Mas se esta relação aparentemente paradoxal parece funcionar a início, depressa se esgota em consequência do exagero que é o personagem de Schonaerts, acabando, como é apanágio, por ser necessária a ajuda mútua para que, no final do filme, pouco reste das pessoas que cada um dos personagens era no início.

Não sendo uma história particularmente original, o realizador consegue de uma forma sua tornar o cliché no fresco, não tanto pelo originalidade exibida (que não é muita) mas mais pela forma como espraia o conteúdo emocional do enredo pelas quase 2 horas de filme. E é aqui que reside a sua força.

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