A Implosão de Nuno Júdice


(para os de 15 de Setembro e 2 de Março)

Imortalidade. Não morrer e continuar, pesados pelas nossas decisões. Permanecer como observador de todos os juízos que deliberamos no caminho. Deixar que as consequências passem pela nossa vida e pelos nossos olhos como um filme sem misericórdia. Sermos ao mesmo tempo observadores e observados, atores de uma comédia negra, remate de uma piada de mau gosto. Irmos a sucessivos funerais de amigos e de outros que nunca conhecemos, destes para quem sabemos ter sido importantes só pelo facto de termos passado pelas suas vidas de forma breve, mas sabemos que nunca ao de leve. Porque nada nunca é ao de leve. Pode demorar 10 meses, 10 anos, 10 séculos, mas todas as nossas ações tiveram ou terão consequências. A tal ponto temos consciência dessa simples verdade que, passados séculos ou, quem sabe e se formos muito teimosos, milénios, todos os nossos atos são cometidos apenas depois de pesar todas as consequências, muitas vezes ao ponto da inação. De preferir não fazer nada. Ou de ter medo de fazer alguma coisa. Porque já não sabemos qual é a maneira correta para se fazer qualquer coisa, porque as consequências são muitas e as hipóteses são iterações infinitas. Desconfiamos de Deus e do Diabo. Desconfiamos do preto, do cinzento, do branco. Desconfiamos porque não sabemos se o que fazemos agora, será o melhor para sempre. A perfeição é quando voltamos ao início, quando não sabíamos as consequências plenas de todos os nossos atos. Quando voltamos ao ponto de nos deixarmos de preocupar com as mil e uma hipóteses que uma simples palavra, um simples passo para frente, uma simples virar de esquina podem ter, quando assumimos as nossas crenças como mutáveis mas verdadeiras no aqui e agora. É nesse momento que nos tornamos naturalmente humanos. Livres.

Implosão é o mais novo livro de Nuno Júdice e começa numa manifestação parecida com a de 15 de setembro de 2012, num país parecido com o nosso, num continente parecido com a Europa. Dois homens da revolução encontram-se e conversam sobre o passado e sobre uma mulher que ambos amaram. A maior parte da conversa é tida em frente ao caixão desta mulher que amaram (estará ela morta?), dentro de uma igreja, à espera de um Traidor.

Um livro que marca este nosso período. De leitura obrigatória. 


Sem comentários: