Et si on Vivait Tous Ensemble? de Stéphane Robelin

O filme começa com um casal de idosos a desligar um rádio que noticiava a crise actual e as respectivas consequências económicas. O mote está assim dado para o desenrolar desta comédia dramática francesa sobre as vicissitudes de ser idoso nesta Europa em mudança, em catarse colectiva, em interrogação quanto ao modelo social seguido e a seguir. Mas o filme não se preocupa com essas questões. Elas são para os mais novos. Ou será que nem para eles são?

O fantasma que se perpetua no filme é o da Morte, o grande divisor, aquele que governa o arrastar ou o correr dos anos (conforme a perspectiva) para estes homens e mulheres, todos com medo, com esperanças, com desejos de jovem em corpos que não respondem ao que encontram na sua cabeça. Uns encaram este precipitar para o fim com serenidade, outros não tanto, mas todos com o mesmo sentido de inevitabilidade nos olhos, nas acções, na pressa em fazer aquilo porque sempre ansiaram, quer o tenham concretizado ou não. Sempre com o melhor sentido de humor possível, com um sorriso de contentamento. E com revolta para com aqueles que os põe de lado, estes últimos não percebendo que os dias acabam para todos e ninguém quer que eles acabem na espera. Querem continuar a fazer, independentemente de tudo e de todos. E deles mesmo!
Ao mesmo tempo, os contadores imiscuem nesta história um jovem etnólogo (protagonizado por Daniel Brühl) que torna objecto da sua tese universitária a vida destes homens e mulheres, e que será obrigatoriamente influenciado pela sabedoria dos anos que passaram por aquelas pessoas. Funciona ainda como contraponto, sublinhado que os desejos não mudam assim tanto com o passar dos anos, apenas as rugas e a saúde. E não existe insanidade, demência, doença, que possa subverter os desejos e os amores comuns a todos os homens, independentemente da idade. A respeito disto observem a belíssima sequência final.
Um filme que sobrevive com uma história sólida e actores desenvoltos (vemos aqui Jane Fonda e Geraldine Chaplin) ainda que a realização não ofereça nada de excepcional. Um filme que vale todo pelo coração e não tanto pelo apontamento extraordinário na, desculpem a pompa, História do Cinema. 

Muito bom!
PS – Não consigo deixar de comentar os conteúdos colocados em cima das mesas de cozinha de filmes europeus, principalmente quando comparados com os que nos habituamos a ver nas dos americanos. Neste filme temos o prazer de ver "verdadeiras" cebolas, alhos, queijos, enchidos, espalhados caoticamente, à espera de ser descascados e comidos. Numa outra mesa provavelmente veríamos pacotes de diversos snacks embalados em cor e em vácuo. Apenas um pensamento!

Sem comentários: