O filme começa com um casal de idosos a desligar um rádio
que noticiava a crise actual e as respectivas consequências económicas. O
mote está assim dado para o desenrolar desta comédia dramática francesa sobre
as vicissitudes de ser idoso nesta Europa em mudança, em catarse colectiva, em interrogação
quanto ao modelo social seguido e a seguir. Mas o filme não se preocupa com
essas questões. Elas são para os mais novos. Ou será que nem para eles são?
O fantasma que se perpetua no filme é o da Morte, o grande
divisor, aquele que governa o arrastar ou o correr dos anos (conforme a
perspectiva) para estes homens e mulheres, todos com medo, com esperanças, com
desejos de jovem em corpos que não respondem ao que encontram na sua cabeça. Uns
encaram este precipitar para o fim com serenidade, outros não tanto, mas todos
com o mesmo sentido de inevitabilidade nos olhos, nas acções, na pressa em
fazer aquilo porque sempre ansiaram, quer o tenham concretizado ou não. Sempre
com o melhor sentido de humor possível, com um sorriso de contentamento. E com revolta
para com aqueles que os põe de lado, estes últimos não percebendo que os dias
acabam para todos e ninguém quer que eles acabem na espera. Querem continuar a
fazer, independentemente de tudo e de todos. E deles mesmo!
Ao mesmo tempo, os contadores imiscuem nesta história um jovem etnólogo (protagonizado por Daniel Brühl) que torna objecto da sua tese universitária a vida destes homens e mulheres, e que será obrigatoriamente influenciado pela sabedoria dos anos que passaram por
aquelas pessoas. Funciona ainda como contraponto, sublinhado que os desejos não
mudam assim tanto com o passar dos anos, apenas as rugas e a saúde. E não existe insanidade, demência, doença, que possa subverter os desejos e os
amores comuns a todos os homens, independentemente da idade. A respeito disto
observem a belíssima sequência final.
Um filme que sobrevive com uma história sólida e actores
desenvoltos (vemos aqui Jane Fonda e Geraldine Chaplin) ainda que a realização
não ofereça nada de excepcional. Um filme que vale todo pelo coração e não
tanto pelo apontamento extraordinário na, desculpem a pompa, História do
Cinema.
Muito bom!
Muito bom!
PS – Não consigo deixar de comentar os conteúdos colocados em cima das
mesas de cozinha de filmes europeus, principalmente quando comparados com os que
nos habituamos a ver nas dos americanos. Neste filme temos o prazer de ver
"verdadeiras" cebolas, alhos, queijos, enchidos, espalhados caoticamente, à
espera de ser descascados e comidos. Numa outra mesa provavelmente veríamos
pacotes de diversos snacks
embalados em cor e em vácuo. Apenas um pensamento!
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