A última vez que vi Macau + Alvorada Vermelha de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata


Filme de matriz saudosista e nostálgica, A Última Vez que vi Macau faz alusão a várias lembranças que os dois realizadores portugueses não querem esquecer. A memória de um território perdido ao império português, que parece trazer recordações de infância aos autores, e a memória do cinema, pela alusão ao filme noir e pelas imagens de Jane Russell no filme Macao de 1952.

Filme ao mesmo  tempo documentário e narrativo, espraia uma história da procura por uma amiga pela ruas iluminadas mas dissimuladas da cidade de Macau, revelando, pela força da inclinação noir, um gosto pelo mistério misturado com saudade. As imagens desfilam, belas, pela frente dos nossos olhos, cada plano um enquadramento temperado e apurado pela perspectiva fotográfica. Parece existir uma busca anárquica pela Macau da lembrança infantil, ao mesmo tempo que a encontram na narrativa desconexa das imagens, ao uni-las quase paradoxalmente.

Acontece que por força de uma história relativamente pouco interessante e arrastada de forma nada inovadora, por força de uma monocórdia voz de narrador, pela pouco impactante imagética tirada da cidade, o filme acaba por ser enfadonho e pouco memorável. Nada aqui sai de alguns lugares comuns do filme noir misturados com tiques de filmes independentes. O que acaba por ser verdadeiramente uma pena, já que, e ao contrário do que estávamos à espera, a curta metragem Alvorada Vermelha, que antecede este Última Vez, acaba por ser o verdadeiro interesse de ir ao cinema pagar o bilhete. Este pequeno documentário relata, sem voz e com frias imagens, um dia num mercado macaense, com particular e sádico interesse pela sua alvorada. Realizado com distante mas nunca mecânico ponto de vista, não deixa de transmitir, de forma indelével, a opinião dos dois autores que, se não são Budistas ou vegetarianos, pelo menos tentam passar uma mensagem dessa inclinação. Ou então apenas uma de amor por animais, o que diga-se de passagem seria bem mais do que suficiente.

A ver, mas provavelmente apenas o documentário de 20 minutos que abre a sessão.

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