Filme
de matriz saudosista e nostálgica, A
Última Vez que vi Macau faz alusão a várias lembranças que os dois
realizadores portugueses não querem esquecer. A memória de um território
perdido ao império português, que parece trazer recordações de infância aos
autores, e a memória do cinema, pela alusão ao filme noir e pelas imagens de Jane
Russell no filme Macao de 1952.
Filme
ao mesmo tempo documentário e narrativo,
espraia uma história da procura por uma amiga pela ruas iluminadas mas dissimuladas
da cidade de Macau, revelando, pela força da inclinação noir, um gosto pelo mistério misturado com saudade. As imagens
desfilam, belas, pela frente dos nossos olhos, cada plano um enquadramento temperado
e apurado pela perspectiva fotográfica. Parece existir uma busca anárquica pela
Macau da lembrança infantil, ao mesmo tempo que a encontram na narrativa
desconexa das imagens, ao uni-las quase paradoxalmente.
Acontece
que por força de uma história relativamente pouco interessante e arrastada de
forma nada inovadora, por força de uma monocórdia voz de narrador, pela pouco impactante
imagética tirada da cidade, o filme acaba por ser enfadonho e pouco memorável. Nada
aqui sai de alguns lugares comuns do filme noir
misturados com tiques de filmes independentes. O que acaba por ser
verdadeiramente uma pena, já que, e ao contrário do que estávamos à espera, a
curta metragem Alvorada Vermelha, que
antecede este Última Vez, acaba por
ser o verdadeiro interesse de ir ao cinema pagar o bilhete. Este pequeno
documentário relata, sem voz e com frias imagens, um dia num mercado macaense,
com particular e sádico interesse pela sua alvorada. Realizado com distante mas
nunca mecânico ponto de vista, não deixa de transmitir, de forma indelével, a
opinião dos dois autores que, se não são Budistas ou vegetarianos, pelo menos
tentam passar uma mensagem dessa inclinação. Ou então apenas uma de amor por
animais, o que diga-se de passagem seria bem mais do que suficiente.
A
ver, mas provavelmente apenas o documentário de 20 minutos que abre a sessão.
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