Preacher de Garth Ennis e Steve Dillon
Conheces bem a língua inglesa? Achas que controlas bem o jargão e o vernáculo do idioma de Shakespeare e de Churchill? Muito bem. Estava só a verificar!
Perguntas seguintes: Ofendes-te facilmente? Não tens sentido de humor? Se respondes-te sim a estas questões, não vale a pena continuar. A sério! Preacher não é para ti!
Descarregada a minha consciência, aqui vai! Preacher é ofensivo, por vezes boçal, é duro, pouco (sublinho o pouco) acredita na natureza humana, violento à enésima potência, não pede desculpa por nada do que diz. E, tal como já havia dito relativamente a “Wanted” de Mark Millar e J.G. Jones, é (também) por isso que é tão deliciosamente bom. Bom mesmo! Um prazer que nem de longe nem de perto pode considerar-se culpado! E Preacher fala tanto da culpa! Ou não fosse escrito por um irlandês, habitante de uma pais tão profundamente católico, tal como o nosso.
“Jesse Cutter é o padre de uma pequena cidade, paulatinamente a perder a sua fé... Até o momento em que um ser metade demónio, metade-anjo chamado Génesis funde-se a ele. Junto com Tulip, a sua namorada amante do gatilho e Cassidy, um vampiro voraz de álcool, Jesse empreende uma bizarra viagem desde o coração do Texas até a amarga alma de Nova Iorque”. Assim é descrita a saga de Jesse, no primeiro de nove volumes da história.
Acrescento mais uma coisa. Qual o motivo da viagem? Acontece que Deus (sim, Esse mesmo!) desistiu do cargo. E Jesse, munido da Sua palavra, efeito secundário da fusão atrás descrita, quer confronta-lo e perguntar-lhe porque raios andamos todos a sofrer que nem cães sarnentos nesta herança a que ele chamou de Vida?
Querem cenário mais propício à ofensa de um pio crente e, mais especificamente, de um católico? O quê, acham que não é suficiente? Muito bem, há mais. Os palavrões abundam. As cenas Sado-Maso abundam. Muita coisa depravada abunda. E quando achavas que já se tinha descido o mais baixo que poder-se-ia descer, eis que o abismo boceja à nossa frente, grande e terrível, e caímos profundamente em uma depravação ainda maior. Isto é Preacher! Também, volto a sublinhar!
Porque fora esta estética, Garth Ennis tece uma obra incrivelmente pessoal, um comentário feroz à Igreja, á Lei e a quem as hipocritamente impõem. E depois, existe aquele pequeno (estou a ser irónico, OK?) elogio ao Amor. Amor adulto, sem fronteiras, quente, sexual, maior que a Vida. Porque nenhuma história pessoal sobre a forma do mundo pode passar sem uma história de um Amor.
Vá, mesmo que te ofendas facilmente, dá uma olhada! Pode ser até que te divirtas ou aprendas ou questiones alguma coisa! Isso é Arte!
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