PEREGRINANDO VII
para o Alexandre Sarrazola
Lembro-me, de repente, que já
estive em cada uma destas mesas,
com mortos e vivos que prefiro
não nomear – enquanto se apequena
(ou avoluma?) a nenhuma diferença:
mãos que nos tocaram, que apodrecem,
que brindaram e morreram.
Demasiado connosco, até nisso.
Estas mesas tão azuis,
tão dolorosamente concretas,
o roxo sem perdão da jukebox.
Parece, de repente, que nunca
falei de outra coisa (e que aquilo
de que falei, afinal, não existe).
Vejo as sombras, os rostos
que se despedem, um a um,
da mentira de estarmos vivos.
Peço outra cerveja, inventamos
juntos uma razão para ficar.
Mas eu só gostava, no fundo, que
o inferno também fechasse às duas.
Manuel de Freitas
ESTÁDIO
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