As letras que me escrevem...













Podia começar por outras letras que me têm ajudado a perceber o Mundo, a afastar-me dele, a descobrir-me, a encontrar outros dentro e fora de mim, a esquece-los ou que simplesmente, e de formas muitas vezes misteriosas, me têm acelerado ou serenado o sangue. Podia começar pelo Morrissey (The Smiths) ou pelo Sérgio Godinho, para falar apenas de dois dos mais antigos e estimados companheiros de viagem. Mas, como dizem na rádio, tenho andado a ouvir repetidamente uma certa canção e é ela que vai inaugurar mais esta jornada: “Maçã de Junho” do Jorge Palma.

Recordo, agora, um concerto quase caseiro em que, na companhia, muito frequente nos concertos da altura (início dos anos 90), do Zé Ernesto ao violino, ouvi o Jorge tocar esta canção com a paixão própria da juventude. Que concerto! Lembras-te? (ah... já chegaram as pedras... obrigado)

“Maçã de Junho” foi editada no 3.º álbum de originais, “Qualquer Coisa Pá Música”, de 1979. Este disco marca ainda o nascimento de músicas como “Quero o Meu Dinheiro de Volta”, “Na terra dos Sonhos”, “Essa Miúda” e “Acorda Menina Linda”.

“Maçã de Junho” terá sido escrita, a acreditar nas lendas e nas testemunhas quase oculares, num quarto de hotel, em Paris, em 1978, à espera... de quem não voltou. Foi e ainda é, felizmente, tocada ao vivo vezes sem conta. Foi editada de novo, mais tarde. Outras canções, do Jorge Palma, terão tido a sua melhor versão em segundas ou terceiras abordagens, como muitas vezes acontece. Mas a “Maçã de Junho” de 1979, na sua quase inocência, tem a frescura, o ritmo, a paixão e a verdade que nunca mais voltou a ter. Bom... talvez no tal concerto... Se estivesses por aqui, num destes dias, íamos por aí a ver os campos de erva perfumada...

Maçã de Junho

És a estrela da alvorada e a madrugada junto ao cais

És tudo o que eu vejo em ti, és a alegria e muito mais
És a minha maçã de Junho, és o teu corpo e o meu
Amo-te mais que à vida, que a vida sem ti morreu
Amo-te mais que à vida, que a vida sem ti morreu

És a erva perfumada, debruada a girassóis

O trago do café quente nas manhãs entre lençóis
És a minha maçã de Junho e a minha noite de Verão
Anda, vem comigo, vamos, dá-me a tua mão
Anda, vem comigo, vamos, dá-me a tua mão

És o encontro na estrada, és a montanha e o pôr do sol

O vinho bebido em festa, és a papoila e o rouxinol
És a minha maçã de Junho e a minha estrela polar
Sem ti eu não tenho norte, sem ti eu não sei amar.
Sem ti eu não tenho norte, sem ti eu não sei amar.

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