Banda Desenhada. Porque vale a pena ler e ler e ler...


Sandman: Brief Lives de Neil Gaiman e Jill Thompson, publicada pela Vertigo, imprint da DC Comics

Vou esclarecer algo desde o início. “Brief Lives”, o 6º volume na história de “Sandman”, saga escrita, concebida e sonhada por Neil Gaiman, é o meu livro favorito. Portanto, se a escala de “eu cá…acho que acho” existisse e fosse de 1 a 10, este livro seria, para este vosso mui convencido escriba, um número grande demais para caber neste blogue. Estão assim avisados!

Morpheus, o personagem principal, é a representação do sonho e parte de uma família maior que os deuses chamada “Endless”. Os “Endless” são ideias tornadas carne, tornadas energia, tornadas realidade, sete irmãos que vivem (existem?) desde o ínicio dos inícios: Death (Morte); Dream (Sonho); Destiny (Destino); Despair (Desespero); Desire (Desejo); Destruction (Destruição); Delirium (Delírio).

Brief Lives” é o livro que está a meio caminho do fim da saga de Morpheus.

A estrutura narrativa é das mais clássicas e intemporais: a viagem. A viagem, que existe tanto na “Odisseia” de Homero, como no “Apocalypse Now” de Francis Ford Coppola, como em “O Senhor dos Anéis”. A viagem que de física torna-se metafórica. Desde o inicío, o proverbial primeiro passo na caminhada de mil, até ao fim, o confronto final, o desenlance, o final feliz.

No fim do livro anterior da saga de Morpheus Gaiman reinvidica para a sua história uma frase: “a acção de virar uma página, de acabar um capítulo, de fechar um livro, não completa o conto”. Com esta frase reflete que, para quem deseja finais felizes, talvez devesse ficar-se por ali. Mas ao continuar, o leitor terá de ter consciência que é também ele detentor da chave do destino de Morpheus. Gaiman é mestre neste recurso estilistico, neste gosto pela estrutura das histórias, convidando-nos assim para um conto que é uma boneca russa: Historia dentro de história dentro de história. Isto também porque Morpheus, porque Sonho, é também ele o patriarca, o santo, o patrono dos contadores de histórias e das histórias elas mesmas.

Mas e a história de "Brief Lives"? Essa é uma verdade assustadoramente bela (principalmente para quem nela reconhece alguma verdade). Fala de divindades que morrem com os seus adoradores. De divindades que sobrevivem porque se adaptam. Fala de como a ciência destruiu o mistério e a magia do desconhecido. Fala da destruição enquanto mecanismo essencial para a mudança. Fala da mudança. Conta uma mudança. E, acima de tudo, fala de como nos sonhos sabemos voar e de que quando acordamos esquecemos de como fazê-lo.

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