Um dia um amigo disse-me: “Olha ali, uma árvore, que bela que ela é, há poucas coisas mais belas que uma árvore”. Estava junta a outras coisas belas, também elas árvores. Elas existem, como a maior parte da natureza, sem desculpas. Nascem ali, crescem ali, e observam. Elas pouco se importam connosco, ainda que sejamos os seus maiores inimigos. Na realidade, ao destruí-las, somos os nossos maiores inimigos. 

Eu acho que as árvores vivem tanto tempo porque querem provar algo: ficar quieto é a melhor forma de viver. Um dia elas vão acordar, assim como que no fim de uma história com twist, e dizer algo surpreendente: estão a ver como se deve viver? Com calma, porque nós sempre nos mexemos, apenas a uma velocidade menor que a vossa. Sempre fizemos mil e uma coisas, mas fizemo-las com descontração e de forma pensada.

Uma vozinha chata em mim diz, mas elas não viajam nada, nunca saem do lugar, que interesse há nessa vida? Se calhar as folhas que libertam viajam em nome delas e crescem noutros locais. Ou então, porque estão sempre paradas, tudo vem ao seu encontro e todas as vidas e todos os romances passam pela frente dos seus olhos. Para quê deslocarem-se pelo mundo se o mundo, mais tarde ou mais cedo, passa por elas?

Uma árvore pode ser isto tudo o que imaginei, mas, na realidade, elas devem estar-se a borrifar. Elas observam-me e pensam: escreve que nós vivemos e sabemos, tu imaginas e nós sabemos, tu racionalizas e nós sabemos. Sabemos porque demoramos mais tempo a observar do que a ver.

(Sabem uma coisa que nada tem a ver com o escrevi? Ainda bem que só existe o ela e o ele em português e não um equivalente ao it inglês. Assim sou obrigado a tratar uma árvore por tu, tal como ela deve ser tratada. De igual para igual.)

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