O que vou lendo! - Superman, Up In The Sky de Tom King e Andy Kubert


Tom King é um dos escritores do momento na BD de super-heróis e não só. A sua sequência na revista homónima do Batman é uma das melhores da História da personagem (e da revista). O trabalho que fez para o Visão da Marvel (do qual foi publicado apenas metade em Portugal) é adulto e sofisticado. O seu Mr. Miracle para a DC interpreta os Novos Deuses de Jack Kirby de forma moderna e humana. Isto para não falar do Xerife da Babilónia (publicado pela Levoir), Omega Men, Grayson e mesmo o menos querido Heroes in Crisis (talvez o maior passo em falso). Para alguém que entrou há tão pouco tempo na BD (é ex-agente da CIA), o trabalho exibido é de uma qualidade muito acima da média. Ser ele a escrever uma história do Super-Homem é sempre algo que cria alguma expectativa. Trata-se, a bem ver, de uma das maiores figuras da cultura pop dos EUA e do mundo, com 80 anos, explorados ao milímetro por algumas das maiores mentes criativas da arte. 

E como se sai King?

A resposta é simples: esta é uma das melhores histórias que já li com esta personagem como protagonista. Eu sei do peso desta frase. Estamos a falar de um campeonato onde já jogaram Alan Moore, com o seu Whatever Happened to the Man of Tomorrow?, Grant Morrison, com All-Star Superman (publicado pela Levoir), Brian Azzarello, com Pelo Amanhã (também publicado pela Levoir), Mark Millar, com Herança Vermelha (uma vez mais, existe pela Levoir), etc. O que me leva a afirmar algo tão forte?

Este conto tem um historial de publicação curioso. Ele começou por não estar disponível em mais nenhum formato a não ser uns especiais de 100 Páginas que a DC publicou exclusivamente nas superfícies comerciais Wallmart nos EUA. Tive sorte de um amigo arranjar-me os nove primeiros números, nos quais, do três ao nove, eram publicados os sete primeiros capítulos desta história. Exactamente por volta desse número nove, a editora anunciava a publicação do trabalho de King e Kubert numa mini-série de seis fascículos. Acabei-o a ler nesse formato (posteriormente, irá sair o Hardcover que, desde já, aconselho, a não ser que a Levoir o publique antes).

King cria a história de um rapto de uma jovem fã do Super-Homem. Uma criança órfã (como o nosso herói) é levada por alienígenas. Movido pelo seu sentido de justiça, enceta uma busca desenfreada pela imensidão espacial, defrontando inúmeros obstáculos, em  capítulos de 12 páginas, cada qual explorando não só essa busca, mas também uma faceta da personalidade da personagem. O que King consegue de forma tão pouco vista, é imprimir urgência e perigo, ao mesmo tempo que nos descreve um Super-Homem profundamente humano na resiliência, obstinação e incapacidade de claudicar quando está em perigo apenas uma única vida humana. O seu super-poder, aquele que o separa dos seus congéneres, não é a invulnerabilidade, a super-força ou a capacidade de voar. São os valores humanos que adquiriu dos pais terrenos e uma personalidade que insiste em tentar salvar todas as vidas do universo. Sem esperar nada em troca, a não ser o amor que sente por todas as formas de vida. Esta pureza de motivos é insistentemente mal vista por todos os espíritos cínicos. Esta nobreza de carácter é descartada como sendo quase divina e inatingível - do mesmo mal padece a Mulher-Maravilha e, devido ao seu intrínseco cinismo e por contraponto, o Batman é o mais querido desta trindade da DC. 

É revelador quando uma personagem como o Super-Homem é insistentemente vista como datada, paternalista e obsoleta. Verdade que essa imagem muito se deve ao que a DC foi "obrigada" a fazer nas décadas de 50 e 60, fugindo da matriz original dos criadores Joe Siegel e Joe Shuster, mas as últimas décadas recuperaram-na, e existe mesmo um filme que luta contra esse preconceito (sim, falo do Man of Steel de Zack Snyder). O que King faz é agarrar nessa figura paternal e imbuí-la de um sentido de esperança profundo e humano, não descurando a modernidade que tantas vezes lhe escapa (pelos olhos do leitor comum, que raramente o lê, mas insiste em julgá-lo). 

Já agora, não quero de forma alguma diminuir o superlativo trabalho do veterano Andy Kubert, que, num estilo reminiscente ao do seu pai, Joe Kubert, e ao de Frank Miller, imprime humanidade e épico à história. Não só isso, mas é um exímio contador de histórias, partindo o conto de forma cinematográfica, mas também tão ao estilo da 9.ª Arte.

Sem qualquer tipo de reservas, uma das minhas histórias favoritas escritas com o Homem de Aço. Imprescindível para todos os que gostam de ler boas histórias. 

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