O cinema português não é muito querido pelos seus conterrâneos. Consideram-no hermético, difícil e intelectual. Raramente gosto de entrar em polémicas neste Blogue, e não vai ser agora que vou começar. Não vou meter-me nos meandros desta discussão, que vale o que vale. No que a mim diz respeito, quando é lançado um filme que me atrai (independentemente da origem geográfica), faço o que posso para o ir ver ao cinema. Assim foi com este Diamantino, um passo divertido, sem perder personalidade, na boa direcção do cinema luso (ou não! Se calhar, já não sou capaz de o avaliar).
Um dos atractivos desta obra de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt é o facto de a personagem titular ser fortemente inspirada no jogador de futebol, Cristiano Ronaldo. Carloto Cotta encarna Diamantino Matamouros de forma perfeita, ao ponto de assemelhar-se fisicamente ao desportista do nosso mundo real. O trabalho do actor é um dos grandes atractivos deste divertido filme, mas não só. Navegamos uma narrativa humorística, com laivos de surreal, sem perder a tão necessária linearidade, importante para permitir o acompanhamento da história. Existem alguns desvios idiossincráticos, que podem não agradar aos menos habituados a uma "certa" linguagem cinematográfica, mas nunca em detrimento da coerência ou do puro valor de entretenimento. Este é um filme que pode padecer de alguns dos tiques do que alguns consideram "cinema português", mas assume-os, abraça-os e ri-se com eles - e permite-nos rir em conjunto.
A narrativa acaba por distanciar-se da abordagem futebolística, para antes focar-se numa análise de humor fino sobre a "alma portuguesa", numa abordagem jocosa de uma certa mentalidade de Estado Novo. Transforma-se numa delirante crítica, sem desculpa e acutilante, sempre cheia de tiros certeiros. Difícil não ter um sorriso no canto da boca numa boa parte do filme. Para isso também contribuem as irmãs Moreira, que encarnam, de forma terrivelmente perfeita, a pura perfídia das irmãs de Diamantino, numa espécie de inversão de género da Cinderela. Aliás, outro ponto alto deste filme, e talvez não para todos os gostos, são as perpétuas brincadeiras e inversões com a sexualidade das personagens. Acaba por ser reconfortante que um filme assuma, de forma tão natural, evoluções do sexo com laivos de fantástico, contribuindo para uma estranheza humorística sem complexos.
Diamantino é um delírio divertido, doido e disparatado. Não é para todos os gostos, é certo, mas é melhor que muita da oferta actual de cinema mais mainstream. Vão ver, nem que seja por causa da sátira ao Ronaldo.
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