Captain Marvel (Capitão Marvel) de Anna Boden e Ryan Fleck

Desde 2008 que a Marvel tem tomado conta do cinema de entretenimento. Filme após filme, tem crescido em ambição e na construção de um universo único e coeso, que aproveita um dos elementos mais viciantes dos super-heróis, a partilha de um mesmo mundo. Agora que se aproxima o fim de um primeiro grande ciclo, com o filme Avengers Endgame, a produtora tem procurado por soluções para continuar a explorar estas personagens. Em breve, provavelmente, veremos o fim de Chris Evans como Capitão América e de Robert Downey JR como o Homem de Ferro, e há que encontrar substitutos. Para o primeiro, a Marvel escolheu explorar a Capitão Marvel, uma super-heroína na matriz de um Super-Homem. Infelizmente, o filme fica aquém do legado que quer continuar.


O problema da Marvel, neste filme, não é tanto a falta de meios, mas aquilo que constitui uma das bases de uma boa obra da 7.ª Arte: a história. Já disse várias vezes que os filmes desta produtora esforçam-se por ter uma paleta de cores, uma iluminação, um enquadramento de imagens, relativamente uniforme de filme para filme. Não me canso de dizer que parece estarmos sempre a ver o trabalho de um mesmo realizador (excepção tem de ser feita aos Guardiões da Galáxia). Para que, então, exista a necessidade e a vontade de ver e rever, a Marvel tem conseguido entusiasmar, através de uma escrita cheia de humor, personagens cativantes, situações empolgantes e castings inspirados. Contudo, a história deste Capitão Marvel é redundante, repetitiva, pouco entusiasmante e arrasta-se. Tem momentos divertidos, sem duvida, mas que compõem um todo onde transparece uma certa "lei do menor esforço". Inclusive, existe um enamoramento auto-referencial ao universo cinematográfico da Marvel que poderia ser interessante, mas que pareceu apenas preguiçoso. Foi o primeiro filme da Marvel onde houve enfado, com cenas pouco surpreendentes, cheias de lugares-comum e previsíveis. Nunca é bom para um filme ser fácil perceber todos os twists e surpresas que nos esperam.

Sem fazer spoilers, o tratamento que fazem a Nick Fury e aos Skrulls desvia-se da matriz da BD de forma incompreensível. Personagens interessantes parecem servir outros propósitos que não os da abordagem de conceitos que são, no original, cheios de potencial e complexidade. Brie Larson, por seu lado, está algo a meio do caminho. Existe a personalidade rebelde e desafiante da Carol Danvers da BD, que a actriz encarna de forma eficiente, mas, por outro, algumas das poses que escolhe como super-heroína são kitsh e distraem. Um certo desequilíbrio que desconcerta. O potencial está lá, e pode ser que nas próximas aparições ganhe o lustro que necessita adquirir.

Este é um filme redundante e talvez o primeiro tropeço da Marvel em termos de qualidade de entretenimento - não que isso seja um problema, já que está a render bastante bem na bilheteira mundial.

PS - Fica aqui uma teoria para a Marvel pós-Avengers Endgame. Acho que acho que o Capitão América morre, e passa o título militar para esta nova heroína do Cinema. Registem!

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