Também tinha de fazer uma lista dos comics que, mensalmente, número após número, mais me entusiasmam. Estes são aqueles que migram para o topo da pilha que chega todos os meses, religiosamente, da minha loja de BD.
Não é, nem de longe nem de perto, uma tentativa de dizer que são os melhores. São aqueles que são escolhidos pelo meu gosto e pelas minhas manias e que, ainda assim, destacam-se de todos os restantes dessa pilha. Notem que há muito DC (nesta segunda parte há uma excepção), pela simples razão que é a editora que mais leio neste formato.
Hoje publicamos a segunda e última parte.
Exiles
Para aqueles que pensavam eu ser demasiado inclinado para a DC (e sou), eis que surge a exceção que confirma a regra. Não que a Marvel (ou outra qualquer editora dos EUA) não tenha comics que cheguem aos píncaros da DC de 2018 (porque os há). Eu é que não os li (ainda).
Colecciono os Vingadores de Jason Aaron, o Homem-Aranha de Dan Slott e o do Nick Spencer, a Ms Marvel e G. Willow Wilson , o Quarteto Fantástico de Slott, o Peter Parker de Zdarsky e mais alguns aqui e acolá. Gosto dos Vingadores e da Ms Marvel, o Homem-Aranha não me entusiasma, o Quarteto ainda é cedo para julgar e o Peter Parker apresentou qualidade variante. Mas este Exiles de Saladin Ahmed e Javier Rodriguez (que vai ser cancelado com o número 12) é, no que a mim diz respeito, o melhor da minha pilha da Marvel.
Não só reúne uma colecção de personagens intrigantes e diferentes, por exemplo a Valquíria baseada na da Tessa Thompson do filme Thor Ragnarok ou o Wolverine ao estilo de desenho animado, como o enredo varia de arco de história para arco, o que entusiasma pela falta de rotina. Mas a cereja no topo deste maravilhoso bolo é a arte de Javier Rodriguez, de quem já havia gostado na Spiderwoman. A Marvel que não perca o trabalho deste senhor e que continue a usá-lo mesmo depois deste cancelamento.
Mister Miracle
O escritor Tom King tinha muito sobre o que falar depois de ter desistido de ser agente da CIA, e ainda bem que escolheu a BD para ser o meio onde o fazer. Não bastava escrever o melhor Batman dos últimos anos (se calhar até mesmo de sempre, veremos no final). Não bastava ter interpretado de forma brilhante o andróide Visão na Marvel - uma das minhas leituras favoritas de 2018.
Não é por acaso que escrevo este trabalho em último lugar. Ainda que com um enredo e conteúdo diferentes, sou da teoria que, em temática, esta e Mister Miracle partilham de um mesmo código genético. Este escritor reserva boa parte da sua inclinação para falar de famílias. Da (sua) esposa e dos (seus) filhos. Se em Visão era óbvio, ao mesmo tempo que misturava outras temáticas, neste Mr Miracle agarra nesse assunto tão universal para falar das obrigações de ser pai (e mãe). Escolhe o mundo de deuses criado pelo génio Jack Kirby, o Quarto Mundo, o mesmo do Darkseid, para falar daquilo que nos faz humanos, usando seres divinos em batalhas maiores que a vida (mas a vida, aqui, é a descendência). Para isso usa o casal Scott Free e Big Barda, na melhor interpretação destes conceitos desde a do seu criador original.
Para aqueles que pensavam eu ser demasiado inclinado para a DC (e sou), eis que surge a exceção que confirma a regra. Não que a Marvel (ou outra qualquer editora dos EUA) não tenha comics que cheguem aos píncaros da DC de 2018 (porque os há). Eu é que não os li (ainda).
Colecciono os Vingadores de Jason Aaron, o Homem-Aranha de Dan Slott e o do Nick Spencer, a Ms Marvel e G. Willow Wilson , o Quarteto Fantástico de Slott, o Peter Parker de Zdarsky e mais alguns aqui e acolá. Gosto dos Vingadores e da Ms Marvel, o Homem-Aranha não me entusiasma, o Quarteto ainda é cedo para julgar e o Peter Parker apresentou qualidade variante. Mas este Exiles de Saladin Ahmed e Javier Rodriguez (que vai ser cancelado com o número 12) é, no que a mim diz respeito, o melhor da minha pilha da Marvel.
Não só reúne uma colecção de personagens intrigantes e diferentes, por exemplo a Valquíria baseada na da Tessa Thompson do filme Thor Ragnarok ou o Wolverine ao estilo de desenho animado, como o enredo varia de arco de história para arco, o que entusiasma pela falta de rotina. Mas a cereja no topo deste maravilhoso bolo é a arte de Javier Rodriguez, de quem já havia gostado na Spiderwoman. A Marvel que não perca o trabalho deste senhor e que continue a usá-lo mesmo depois deste cancelamento.
Mister Miracle
O escritor Tom King tinha muito sobre o que falar depois de ter desistido de ser agente da CIA, e ainda bem que escolheu a BD para ser o meio onde o fazer. Não bastava escrever o melhor Batman dos últimos anos (se calhar até mesmo de sempre, veremos no final). Não bastava ter interpretado de forma brilhante o andróide Visão na Marvel - uma das minhas leituras favoritas de 2018.
Não é por acaso que escrevo este trabalho em último lugar. Ainda que com um enredo e conteúdo diferentes, sou da teoria que, em temática, esta e Mister Miracle partilham de um mesmo código genético. Este escritor reserva boa parte da sua inclinação para falar de famílias. Da (sua) esposa e dos (seus) filhos. Se em Visão era óbvio, ao mesmo tempo que misturava outras temáticas, neste Mr Miracle agarra nesse assunto tão universal para falar das obrigações de ser pai (e mãe). Escolhe o mundo de deuses criado pelo génio Jack Kirby, o Quarto Mundo, o mesmo do Darkseid, para falar daquilo que nos faz humanos, usando seres divinos em batalhas maiores que a vida (mas a vida, aqui, é a descendência). Para isso usa o casal Scott Free e Big Barda, na melhor interpretação destes conceitos desde a do seu criador original.
Superman
A chegada do menino-querido-da-Marvel, Brian Michael Bendis, à DC, foi recebido com um misto de entusiasmo e de reserva. Bendis é o tipo de autor que tem gerado tanto anti-corpos como adulação. No que a mim diz respeito, vivo no meio termo, tendo gostado de muitos dos seus trabalhos e menos de outros. Era também dos que estava contente com o trabalho de Tomasi no título do Homem de Aço. Quando foi anunciado que seria substituído pelo ex-enfant-Marvel, fiquei expectante, mas não pessimista. A principio, depois da sofrível mini-série Man of Steel, fiquei receoso que uma das minhas personagens favoritas não estivesse em boas mãos.
Esses medos foram, mês após mês, expurgados. O primeiro arco coloca o Super-Homem numa escala apropriada à personagem, a do confronto pan-universal, ao mesmo tempo que cria uma ameaça mais pessoal. É verdade, concedo, que existem duas opções de enredo que são altamente questionáveis: a nova teoria sobre a destruição de Krypton e o novo papel do filho de Kal-El. Mas também concedo o benefício da dúvida. Mais ainda quando tenho a arte absolutamente extraordinária do brasileiro Ivan Reis a embelezar as batalhas titânicas entre o nosso herói e os seus antagonistas.
A chegada do menino-querido-da-Marvel, Brian Michael Bendis, à DC, foi recebido com um misto de entusiasmo e de reserva. Bendis é o tipo de autor que tem gerado tanto anti-corpos como adulação. No que a mim diz respeito, vivo no meio termo, tendo gostado de muitos dos seus trabalhos e menos de outros. Era também dos que estava contente com o trabalho de Tomasi no título do Homem de Aço. Quando foi anunciado que seria substituído pelo ex-enfant-Marvel, fiquei expectante, mas não pessimista. A principio, depois da sofrível mini-série Man of Steel, fiquei receoso que uma das minhas personagens favoritas não estivesse em boas mãos.
Esses medos foram, mês após mês, expurgados. O primeiro arco coloca o Super-Homem numa escala apropriada à personagem, a do confronto pan-universal, ao mesmo tempo que cria uma ameaça mais pessoal. É verdade, concedo, que existem duas opções de enredo que são altamente questionáveis: a nova teoria sobre a destruição de Krypton e o novo papel do filho de Kal-El. Mas também concedo o benefício da dúvida. Mais ainda quando tenho a arte absolutamente extraordinária do brasileiro Ivan Reis a embelezar as batalhas titânicas entre o nosso herói e os seus antagonistas.
The Terrifics
Dan Didio, editor chefe da DC (por quem não nutro particular simpatia editorial), tinha um sonho: criar personagens novos, ao mesmo tempo que daria mais relevo criativo aos desenhadores. Chamou-lhe New Age of Heroes. Falhou espectacularmente. Prometeu muito e entregou quase nada. Os seus queridos desenhistas por vezes nem completavam um único número (The Unexpected, por exemplo). A larga maioria dos títulos tinha uma qualidade deplorável e, muito sinceramente, foram uma traição à confiança dos leitores. Excepto por este The Terrifics, e tudo graças à excelente escrita de Jeff Lemire. É verdade que, nos três primeiros capítulos, teve a ajuda de Ivan Reis, mas os que se lhe seguiram têm sido beneficiados da imaginação desenfreada de Lemire.
Este titulo é uma muito clara homenagem ao Quarteto Fantástico, divertida e exuberante. Nos últimos meses tem titubeado um pouco, mas a esperança de que recupere o lustro inicial não deixou de existir.
PS - Este The Terrifics não será nunca um título favorito de Alan Moore, já que utiliza uma das suas personagens criadas para a America's Best Comics.
Dan Didio, editor chefe da DC (por quem não nutro particular simpatia editorial), tinha um sonho: criar personagens novos, ao mesmo tempo que daria mais relevo criativo aos desenhadores. Chamou-lhe New Age of Heroes. Falhou espectacularmente. Prometeu muito e entregou quase nada. Os seus queridos desenhistas por vezes nem completavam um único número (The Unexpected, por exemplo). A larga maioria dos títulos tinha uma qualidade deplorável e, muito sinceramente, foram uma traição à confiança dos leitores. Excepto por este The Terrifics, e tudo graças à excelente escrita de Jeff Lemire. É verdade que, nos três primeiros capítulos, teve a ajuda de Ivan Reis, mas os que se lhe seguiram têm sido beneficiados da imaginação desenfreada de Lemire.
Este titulo é uma muito clara homenagem ao Quarteto Fantástico, divertida e exuberante. Nos últimos meses tem titubeado um pouco, mas a esperança de que recupere o lustro inicial não deixou de existir.
PS - Este The Terrifics não será nunca um título favorito de Alan Moore, já que utiliza uma das suas personagens criadas para a America's Best Comics.
Pearl
Quando mudou-se para a DC, Bendis não planeava apenas escrever as personagens de outros. Combinou o regresso da sua imprint pessoal, a Jinxworld, com a colaboração de desenhadores amigos de longa data. Com Michael Gaydos já tinha criado, para a Marvel, a famosa Jessica Jones. Regressa com este Pearl, que acompanha uma jovem japonesa-americana albina, dona de uma estranha tatuagem e com uma também estranha capacidade de matar.
Bendis consegue fazer-se acompanhar de artistas a quem dá uma notável liberdade criativa, criando colaborações simbióticas. Ou, pelo menos, assim o parece com este Pearl (e com todos os restantes três títulos da Jinx). Este meu favorito segue alguns dos tiques de Bendis e de Gaydos, com longas sequências que para muitos são pseudo-artísticas, mas que para este que vos escreve lembram pausas cinematográficas. Uma espécie de criação de espaço de reflexão antes de explosão de violência. É verdade que, provavelmente, ganha-se mais em ler tudo de uma assentada (o que estou a fazer com os restantes títulos da Jinx), mas a este Pearl a espera de meses não resiste.
Quando mudou-se para a DC, Bendis não planeava apenas escrever as personagens de outros. Combinou o regresso da sua imprint pessoal, a Jinxworld, com a colaboração de desenhadores amigos de longa data. Com Michael Gaydos já tinha criado, para a Marvel, a famosa Jessica Jones. Regressa com este Pearl, que acompanha uma jovem japonesa-americana albina, dona de uma estranha tatuagem e com uma também estranha capacidade de matar.
Bendis consegue fazer-se acompanhar de artistas a quem dá uma notável liberdade criativa, criando colaborações simbióticas. Ou, pelo menos, assim o parece com este Pearl (e com todos os restantes três títulos da Jinx). Este meu favorito segue alguns dos tiques de Bendis e de Gaydos, com longas sequências que para muitos são pseudo-artísticas, mas que para este que vos escreve lembram pausas cinematográficas. Uma espécie de criação de espaço de reflexão antes de explosão de violência. É verdade que, provavelmente, ganha-se mais em ler tudo de uma assentada (o que estou a fazer com os restantes títulos da Jinx), mas a este Pearl a espera de meses não resiste.
The Dreaming
Outro dos regressos à DC foi o da linha Vertigo, o famoso selo que nos deu obras como Sandman, Preacher, 100 Bullets, entre outras. Foi exactamente esta primeira que inaugurou o regresso, com quatro títulos curados pelo criador ele mesmo, Neil Gaiman. The Dreaming de Spurrier e Bilquis Evely é aquela que segue mais directamente os enredos e mitologias criados por Gaiman no seu Sandman, ao imaginar que Daniel, o actual Senhor dos Sonhos, decide abandonar o seu posto. O caos que se segue envolve várias personagens que já conhecíamos das páginas da seminal saga, mas também novos, que prometem, com motivações intrigantes e mistérios por resolver.
Não esperem revisitar a proeza e o momento histórico que foi a saga de Sandman, mas, se se afastarem de algum preconceito, pode ser que sejam surpreendidos pelo trabalho exuberante da escrita literária de Spurrier e pelo desenho da brasileira Evely.
Outro dos regressos à DC foi o da linha Vertigo, o famoso selo que nos deu obras como Sandman, Preacher, 100 Bullets, entre outras. Foi exactamente esta primeira que inaugurou o regresso, com quatro títulos curados pelo criador ele mesmo, Neil Gaiman. The Dreaming de Spurrier e Bilquis Evely é aquela que segue mais directamente os enredos e mitologias criados por Gaiman no seu Sandman, ao imaginar que Daniel, o actual Senhor dos Sonhos, decide abandonar o seu posto. O caos que se segue envolve várias personagens que já conhecíamos das páginas da seminal saga, mas também novos, que prometem, com motivações intrigantes e mistérios por resolver.
Não esperem revisitar a proeza e o momento histórico que foi a saga de Sandman, mas, se se afastarem de algum preconceito, pode ser que sejam surpreendidos pelo trabalho exuberante da escrita literária de Spurrier e pelo desenho da brasileira Evely.
Sem comentários:
Enviar um comentário