Uma BD aqui, outra BD ali, 27 - Comics favoritos de 2018, parte 1

Há quem diga que os floppies estão a morrer - panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem. Espero que não porque adoro devorá-los! De vez em quando, escrevo umas breves palavras sobre alguns que gostei.  Não são nem melhor nem pior que outras coisas.



Também tinha de fazer uma lista dos comics que, mensalmente, número após número, mais me entusiasmam. Estes são aqueles que migram para o topo da pilha que chega todos os meses, religiosamente, da minha loja de BD. 

Não é, nem de longe nem de perto, uma tentativa de dizer que são os melhores. São aqueles que são escolhidos pelo meu gosto e pelas minhas manias e que, ainda assim, destacam-se de todos os restantes dessa pilha. Notem que há muito DC (hoje é tudo da DC), pela simples razão que é a editora que mais leio neste formato.

Hoje publicamos a primeira parte.

Batman

É difícil encontrar adjectivos que já não tenham sido usados ou que elogiem de forma clara o trabalho do escritor Tom King no Cavaleiro das Trevas. Literalmente todos os meses, King surpreende pelo olhar clínico sobre a personagem e sobre o seu mundo. Olhar que não fica claro apenas nos grandes eventos (o casamento que - spoiler - não aconteceu e a revelação do vilão por detrás das maquinações), mas também nos momentos mais calmos (o confronto com o Joker e Mr. Freeze). Não há, hoje em dia, nada tocado pela mão de King que não seja ouro, no mínimo. Por exemplo, uma pequena história de três páginas no Batman Secret Files é suficiente para perceber a qualidade do trabalho deste escritor. 

Numa personagem já com tantas histórias óptimas, King arrisca-se a estar a escrever a melhor sequência de sempre na revista mensal do Batman. Em 2020 voltamos a falar, quando concluir os cento e tal números planeados.

Batman White Knight


A DC, desde que enveredou pela reinvenção da sua linha editorial, a chamada DC Rebirth, voltou a usar ferramentas que a transformaram numa das mais entusiasmantes editoras das décadas de 80 e 90. Umas dessas, o Elseworlds, permitia a diferentes autores contar histórias fora do fardo da continuidade "normal" e deixar a imaginação voar com recurso a personagens clássicas. Claro que o maior "money maker" da DC teria de ter o maior número dessas publicações e este Batman, The White Knight de Sean Murphy foi dos mais divertidos e melhores exemplos desse filão. 

O conceito é básico: o que aconteceria se o Joker fosse curado? Claro que não bastaria isto para convencer, mas Murphy desenvolve um enredo entusiasmante, energético e acessível a qualquer pessoa menos versada no mundo do Homem-Morcego. O sucesso foi garantido e não só ganhou uma sequela para 2019, como passou a ser, retroactivamente, o primeiro título do novo selo, DC Black Label, com histórias e reinterpretações adultas das personagens DC.

Dark Nights - Metal

Em 2018 foi publicada a última metade deste história/evento da DC, com o Batman e a Liga da Justiça como elementos centrais. A ameaça provinha de um universo maléfico, espelho retorcido deste nosso, e, mais especificamente, de Batmans que "correram mal". Verdadeiras distorções dos princípios de justiça do Homem-Morcego, destaca-se o maravilhoso Batman Who Laughs, uma mescla de Batman e Joker, que transformou-se, automaticamente, num dos grandes vilões da DC. 

Os autores, Scott Snyder e Greg Cappulo, construíram uma narrativa deliciosamente pop, carnavalesca, hiperbólica, com tudo do melhor que as mitologias dos super-heróis são capazes de construir. Exagerado, divertido, a própria definição de excesso. Pura pornografia. 



Doom Patrol

O ano de 2018 viu o interregno da experiência conjunta de Gerard Way e da DC chamada Young Animal. Ainda não lemos alguns dos títulos (estão na prateleira à espera), mas este Doom Patrol, de Way e do maravilhoso desenhador Nick Derigton, foi, consistentemente, uma viagem alucinante devedora ao melhor que Grant Morrison fez com estas mesmas personagens. Surrealista, incompreensivelmente divertida e complexa, conseguiu, uma vez mais, voltar a contar histórias da muito esquecida e querida Doom Patrol (de quem estamos desejosos de ver a série de TV que aí vem). 

Apesar dos poucos números em 2018, deixou-nos com a esperança de um futuro risonho pós-capítulo 12. É esperar pela prometida continuação em 2019.


Doomsday Clock

Quando o anúncio desta obra chegou, foi recebido com um misto de reacções positivas e negativas. Cometia o pecado de ser a continuação do seminal Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons, trazendo as personagens desse mundo para interagir com os super-heróis "normais" do universo DC. Geoff Johns na escrita e Gary Frank no desenho têm conseguido, mês sim e mês não, analisar o impacto do livro da década de 80, ao mesmo tempo que fazem fan service, ao resolver alguns dos mistérios que existem no universo DC desde 2016 - por exemplo, quem é que roubou 10 anos de História? Se Johns não é Moore, a sua escrita melhorou em relação a esforços anteriores. Menos pop, mais pensada. Por seu lado, Frank está a entregar um dos momentos mais altos da carreira, com arte que não fica atrás da de Gibbons, por vezes até a superando. Restam ainda quatro números e a montanha poderá parir um rato, mas, até agora, a viagem está ser muito interessante. 


Justice League Dark


2018 foi ano do relançar (cíclico) das revistas da Liga da Justiça. Depois de Dark Nights - Metal, veio No Justice e a seguir Justice League, Justice League Odyssey e este Justice League Dark. Criado por James Tynion IV e Alvaro Martinez, a mesma equipa criativa de parte de uma sequência recente em Detective Comics, é uma delirante (e palavrosa) incursão pelo lado místico do universo DC, com a Mulher-Maravilha, Man-Bat, Zatanna, Monstro do Pântano, Detective Chimp, Constantine, etc, como protagonistas. Sem limites, em poucos números já tivemos o aparecimento de um dos mais aterrorizantes vilões da DC, The Upsidedown Man, o regresso de Hecate, entre outras viagens. Consistentemente, um dos mais divertidos títulos da editora e um regalo para os fãs antigos destas mitologias. 

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