Upgrade de Leigh Whannell
O argumentista de "clássicos" do terror como Saw e Insidious tem a sua segunda incursão na cadeira da realização, com esta ideia original chamada Upgrade - estreou-se como realizador no terceiro capítulo de Insidious. Num futuro que se adivinha próximo, um homem é "actualizado" ciberneticamente, transformando-se numa mescla de humano e software de computador. Uma espécie de iPhone ambulante, inclusive com uma Siri. Essa "Siri" permite-lhe aceder a capacidades do corpo que, de outra forma, nunca teria acesso e permiti-lhe buscar a justiça que é o móbil do enredo deste filme. Se tudo isto parece-vos familiar, é porque o é, mas Leigh Whannell consegue encontrar novidade no repetido e surpresa no reconhecível. Isto é Robocop meets Black Mirror - a invenção desta frase não é exclusivamente minha.
Upgrade é um filme verdadeiramente divertido, cheio de ideias boas e originais o suficiente para que o lembremos sem esforço e, acima de tudo, uma narrativa com um apelo emocional forte, que o que faz permanecer afectivamente. O actor principal, Logan Marshall-Green, carrega o peso da película de forma cativante e segura, fornecendo aquilo que é mais importante para qualquer espectador: relacionamento emotivo. O realizador consegue uma mistura descontraída de acção, humor e drama, que eleva este Upgrade a ser mais que uma simples nova iteração dentro do estilo cyberpunk. Não pretende ser uma reflexão filosófica do nosso futuro (isso fica para Black Mirror ou para a mangá Gunnm), mas está cheio de valor de entretenimento. Só ganhávamos em que estreasse comercialmente.
Errementari: The Blacksmith and the Devil de Paul Urkijo Alijo
Para este Errementari viajamos para mais perto, especificamente para o folclore do País Basco. O realizador Paul Urkijo Alijo vasculha o baú da infância para encontrar uma fábula que lhe era contada e construir um dos mais interessantes filmes que vimos neste MOTELx. É a história medieval de um ferreiro que faz um pacto com um demónio e como, quando o acordo não corre como esperava, decide vingar-se do acólito dos infernos (para os que ligam a essas coisas, tem uma pequena participação da inspectora da série de TV Casa de Papel).
É sempre surpreendente a capacidade dos nossos vizinhos em construir uma filmografia diversificada, com películas que podem atrair públicos de todos os lados, sem comprometer a visão do realizador. E esse é o caso deste divertido e original Errementari. Ao mesmo tempo, ficamos estupefactos em como é possível que obras como esta não estreiem nas salas de cinema. Será que o público português não está aberto a uma maior quantidade de experiências vindas das várias províncias de Espanha? Será que só estamos preparados para Almodóvar? Será que temos de "gramar" com todas as iterações de todos os filmes de terror vindos dos EUA (muitas boas e outras muito más) e não podemos ver antes um destes, francamente superior a tanta coisa que passa por aí? Aliás, o MOTELx tem sido palco de alguns filmes do estilo do terror e do fantástico vindos de terras espanholas que surpreendem pela qualidade, pelo alto valor de entretenimento e pela proximidade à nossa realidade. Não nos cansamos de dizer isto: é muito mais fácil os portugueses relacionarem-se com estas realidades que com as já exploradas-até-à-exaustão-variações-de-infernos-suburbanos-americanos. É tempo de arriscar pelo menos uma vez num filme destes, que, com uma boa campanha de marketing, pode chegar longe nas nossas salas de cinema.
2 comentários:
Este filme chamado Upgrade mostra que o exagero de tecnologia está a estrangular a criatividade dos realizadores. Se pensarmos que este filme custou 5 milhões é notável.
Quando estava a ver lembrei-me dos filmes de Série B do mestre Carpenter, como o Assalto à 13ª Esquadra ou Halloween.
O realizador/argumentista Leigh Whannell conhecendo a realidade do baixo orçamento cria um filme que é impecável em termos de efeitos, cenografia e sobretudo no actor principal. Magnifico.
Sou da firme opinião que estes senhores são os ideais para fazer filmes de grande orçamento originais que no futuro se vão tornar em grandes franchises.
Antigamente os filmes que as massas amavam eram realizados por realizadores de Série B, autores e que sabia potenciar com espectaculo o orçamento que tinham.
Obrigado pelo comentário.
Exactamente o que ele disse na apresentação. Disse que teve que navegar o argumento pelo orçamento que o produtor lhe ia dizendo ser o tecto da verba total. E é de facto impressionante os 5 milhões de dólares ser o tecto. Não se nora rigorosamente nada.
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