Uma BD aqui, outra BD ali, 11

Há quem diga que os floppies americanos estão a morrer (panfletos, como lhes chama um amigo; comics, como todos os conhecem). Eu cá espero que não porque adoro agarrá-los e devorá-los! É prazer que rezo para nunca acabar. Assim sendo, de vez em quando, vou escrever umas breves palavras sobre alguns que gostei de ler. Só isso. Gostado! Não são melhores nem piores que outras coisas.

The Terrifics número 1 de Jeff Lemire e Ivan Reis (DC Comics)


Sempre tive dificuldade em perceber porque é que o Quarteto Fantástico da Marvel tem problemas em afirmar-se nos tempos modernos. Porque é que tem problemas para encontrar uma equipa criativa estimulante. Será porque os associamos de tal forma aos autores originais, Stan Lee e Jack Kirby, e à sua lendária sequência de histórias, que todos os outros ficam aquém em comparação? No que a mim diz respeito, John Byrne, na década de 80, conseguiu replicar o trabalho desses dois génios da BD, mas e os outros? Que dificuldades existem para que um dos conceitos mais originais da 9.ª Arte, mais estimulantes e multifacetados, tão próximo das infinitas possibilidades desta Arte, para que esse conceito falhasse ao ponto de não termos uma revista mensal há quase dois anos?

A DC Comics, em jeito de provocação, decide preencher esse vácuo com os Terrifics, uma equipa construída sob o mesmo conceito: exploradores do desconhecido compostos por um génio, um homem elástico, um homem-forte de aspecto monstruoso e coração puro e uma mulher intangível (uma variação de invisível). Na sequência da ainda incompleta série Dark Knight Metal surge esta nova equipa de super-heróis, com o objectivo de explorar os cantos desconhecidos do Multiverso e do Multiverso Negro, fazendo-se valer de tecnologia fantástica e de personagens maiores que a vida com olhar curioso. Este primeiro número segue o espírito do Quarteto Fantástico, com apontamentos de homenagem a essa equipa - um quadrado de duas páginas faz lembrar uma amálgama de Galactus e da história de Ego, O Planeta Vivo escrita e desenhada por John Byrne; o portal para o Multiverso Negro lembra a entrada para a Zona Negativa.

Quer Lemire, quer Reis, estão ao seu mais alto nível, especialmente este último. O brasileiro continua a afirmar-se como um dos mais cativantes desenhadores a trabalhar nos super-heróis. Se há um apontamento negativo a fazer a este número é que sabemos que Reis apenas trabalhará nos três primeiros meses desta revista - segue para o Super-Homem de Bendis. Fora isso, Terrifics é perfeito.

Batman (2016) número 41 de Tom King e Mike Janin (DC Comics)


Quem diria que seria a Hera Venenosa a fazer o Batman duvidar de si mesmo. Tom King continua a sua aclamada sequência de histórias no Cavaleiro das Trevas, desta vez focado-se em mais um embate entre o herói e uma das suas mais antigas adversárias. Contudo, a vilã manipuladora de plantas e dos corações dos homens não é apenas mais um vilão du jour, afirmando-se, antes, como uma antagonista à escala global. Não mais uma piada sexista, a Hera cresce em estatuto de forma orgânica (hum... há uma piada aqui algures) e, ao mesmo tempo, prova que o Batman, apesar de estar sempre bem preparado, não o está para todas as eventualidades.

Tom King continua a escrever argumentos cativantes e únicos. O monólogo interno de Hera é o anzol que nos agarra e, ao mesmo tempo, é o comentário às cenas que se desenrolam - sabemos que é ela mas, ao mesmo tempo, a revelação final da sua aparição como vilã é uma surpresa: pela frieza; pelo poder; pela escala da ameaça. O escritor também prossegue o desenvolvimento da relação do Batman com a Mulher-Gato, procurando transpor a sua experiência pessoal para as vidas destas personagens (como também está a fazer com o essencial Mr. Miracle). Neste entrelaçar de aventura e relações pessoais, King tem se revelado um exímio contador de histórias.

A seu lado, volta a estar Mike Janin como desenhista. E que desenhista. Não só fotografa personagens com alma e carácter, como o faz de forma entusiasmante. A sua Hera é de uma terrível e temível beleza. 

Este é o primeiro capítulo de Everybody Loves Ivy. Mais uma vitória de King e de Janin. 

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