The Shape of Water (A Forma da Água) de Guillermo Del Toro

Guillermo del Toro tem tudo para ser um realizador da minha preferência. A sua inclinação para a fantasia gótica deu ao mundo filmes como o Labirinto do Fauno ou a passagem para o cinema de uma das personagens de BD melhor adaptadas à sua sensibilidade, o Hellboy. Ambas as obras revelaram um realizador inventivo e imaginativo, mas também repleto de uma sensibilidade mais - digamos - universal. A sua paleta de cores, os seus décors, os designs de personagens, apesar de maravilhosos, valeriam de pouco se a alma da narrativa não almejasse a algo mais. E estas duas conseguiam esse equilíbrio. 

Posteriormente, o nome do realizador mexicano era envolvido em inúmeros projectos sem concretização, o mais emblemático dos quais sendo a passagem para o grande ecrã de The Hobbit. Por esta e aquela razão não pode prosseguir na equipa de trabalho dessa nova trilogia passada no mundo criado por Tolkien

Os filmes que se seguiram a Hellboy II foram Pacific Rim, uma redundante incursão no mundo dos robôs gigantes que os japoneses já fizeram mais e melhor (vejam o anime Evangelion, por exemplo), e Crimson Peak, um espectáculo visual com uma história pouco desenvolvida. Apesar destas duas falhas, estava com alguma expectativa em relação a este Shape of Water, principalmente por estar associado a vários prémios ou à promessa de vários prémios (sendo um deles os Óscares). Infelizmente, no que a mim diz respeito, as expectativas saíram goradas.

A Forma da Água é a história de amor entre uma mulher muda e uma estranha criatura subaquática que foi capturada por uma organização governamental dos EUA, onde a jovem trabalha como empregada de limpeza. Seguem-se várias peripécias que envolvem um agente vil, a evasão das instalações governamentais e o crescer do amor entre os protagonistas. Se isto  vos parece repetitivo e banal é porque o é. Não existe nada de mau com uma premissa  redundante se a mão do realizador for tão forte que esquecemos-nos da sensação de dejá vu. Aqui não existe. Del Toro é mestre do décor e do design, da beleza do enquadramento e dos cenários, tal como já o disse. E existe isso tudo neste filme. Mas fica-se por aí. A história parece o regurgitar de algo familiar, lembrando não só filmes anteriores do próprio como Hellboy (a criatura subaquática lembra Abe Sapien, até no facto de gostar de comer ovos), como também de outros realizadores como Jean Pierre Jeunet, o de Amelie e Delicatessen (o realizador francês chegou mesmo a acusar Del Toro de o copiar e não é difícil de perceber onde). 

Os actores cumprem as suas funções mas as personagens são lugares comuns. O sempre brilhante Michael Shannon interpreta, infelizmente, uma personagem bidimensional, caricatural e que pouco mais representa que a América Branca, protestante, racista e intolerante da Era Trump. Sally Hawkins vai bem como protagonista mas, no meio deste festival de personagens demasiadamente familiares, destacam-se antes Octavia Spencer e Michael Stuhlbarg (que está, curiosamente, em três dos candidatos a Óscar de Melhor Filme). 

Não é um filme mau, este Shape of Water. Nas mãos de outro realizador esperar-se-ia menos, mas não nas de Del Toro. A sensação é de que já vimos isto em qualquer lado e acho que não estou longe da verdade.

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