O filme do Pantera Negra está nas salas de cinema. A editora Goody, que detém parte dos direitos das publicações da Marvel em Portugal, lançou recentemente uma mini-série com a sequência de histórias do autor Ta-Nehisi Coates, que podem adquirir aqui numa bela promoção. Mas não é só deste escritor que a História do regente da nação fictícia de Wakanda é feita. Muito pelo contrário. Diversos artistas já deram ar da sua criatividade desde a década de 60, quando a personagem apareceu pela primeira vez no número 52 da revista Fantastic Four, da autoria dos essenciais Stan Lee e Jack Kirby. Contudo , não é deles que aqui vos venho falar porque, apesar de terem sido os seus criadores, não foram dos que mais contribuíram para a personagem (excepto, talvez, o segundo). Hoje escrevo umas breves palavras sobre o primeiro volume de uma colecção de quatro que compilam toda a sequência de histórias do final da década de 90 e início do século XXI escrita por Christopher Priest.
Por vezes é necessária uma catástrofe para facilitar a mudança (já o dizia a personagem Destruição da obra Sandman de Neil Gaiman). No final da década de 90, a Marvel estava em apuros. Tinha entrado em bancarrota e necessitava de tempo para recuperar das dívidas aos seus credores. Uma das soluções foi contratualizar parte do seu catálogo de personagens a editores externos. Joe Quesada chegou-se à frente com um conjunto de autores de topo e ficou com alguns nomes sonantes: Demolidor; Justiceiro; o Pantera Negra. Já nesta altura, a personagem era pouco utilizada para além de algumas mini-séries, aparições em equipas de super-heróis (Vingadores), e a única revista regular remontava à década de 70. Ainda assim, a personagem tinha tido um historial rico, trabalhado por autores como Don McGregor, Rick Buckler, Gil Kane, Jack Kirby. Eis que surge Christopher Priest, cujo trabalho duraria 62 números na revista homónima da personagem, todos compilados nesta colecção de quatro volumes.
O tom de Priest é claramente mais adulto e politicamente engajado, focando-se nas peripécias típicas de super-heróis mas principalmente no papel de T'Challa (o nome verdadeiro do Pantera) como monarca de um nação soberana. Como o próprio refere nestas histórias, muito esquecem-se que estamos a falar de um Rei. Mas o escritor não e faz uso desse enquadramento para construir histórias complexas sobre a necessidade e sacrifício de um regente para gerir os destinos da sua nação. T'Challa não é um inocente super-herói com visões altruístas, mas antes um homem atento, inteligente e sagaz que não tem pejo em fazer qualquer acto (violento, conspirador) para levar o seu país pelo melhor caminho. Uma nação não só a mais tecnologicamente avançada do mundo como a detentora de riquezas naturais desejadas por muitos países civilizados. Ao mesmo tempo, decide construir uma mitologia mais robusta em volta da personagem, adicionando conceitos novos e relevantes (alguns serão utilizados no filme como as Dora Milaje, por exemplo) e não se esquecendo do trabalho de autores que o antecederam.
Priest é um dos maiores contribuidores para o Pantera Negra que vemos hoje em dia escrito por Ta-Nehisi Coates ou por Jonathan Hickman nos Vingadores, mas também aquele que veremos nas salas de cinema. Leitura essencial para perceber quem é T'Challa.
(quando acabar de ler os restantes três volumes darei conta do que achei que achei. Até lá, comprem à confiança este primeiro. Ou então, Goody, G.Floy, que tal pegarem nisto?)
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