Já são muitos anos a virar frangos. Desde os cinco anos de idade a ler Banda Desenhada em geral e de super-heróis em particular. Começou pelo Homem-Aranha e progrediu para todos os outros. Transformou-se em mais do que um vício, que continua até hoje. Todos os meses desloco-me à minha loja de BD favorita e de lá venho com A Pilha. Alguns dos livros dessa pilha leio com mais prazer do que outros, é verdade, mas leio tudo.
Neste link falei da DC, hoje é a vez da Marvel.
A calmaria antes da tempestade
É curioso que, no que respeita às duas grandes editoras de super-heróis, os momentos mais interessantes são os que ocorrem entre grandes eventos. Verdade seja dita que a DC Comics tem conseguido conter a sua sede-de-eventos mas a realidade é que esta editora encontra-se neste momento em um, ainda que espraiado por várias revistas e com uma duração prevista de cerca de dois anos. A Marvel, por seu lado, não consegue conter-se. Denota o comportamento de um viciado. Segue um evento com outro e anuncia, ao mesmo tempo, um terceiro. Antes do fim da saga de 2015, Secret Wars, já os leitores sabiam de Civil War II. Também antes do fim desta já conhecíamos Monsters Unleashed, um evento-soft, e, recentemente, foi anunciado Secret Empire. Não há como parar esta editora, que salta de mega-acontecimento para mega-acontecimento, sem descanso, gerindo a expectativa dos leitores viciados neste novela eterna. Sou também umas das vítimas mas, no que respeita à Marvel, em menor escala.
Este mês e graças aos deuses marvelescos, todas as revistas estão isentas de ligações a estes acontecimentos. É por isso que as minhas favoritas da editora continuam a ser histórias valiosas por si mesmas. Falo dos perenes Ultimates de Al Ewing e Travel Foreman e da nova adição, Champions de Mark Waid e Humberto Ramos. No primeiro, continua a batalha das ideias macro-cósmicas, com a realidade literalmente aprisionada por um inimigo ainda desconhecido, isto enquanto as personificações do Caos e da Ordem redefinem a sua existência e, consequentemente, a realidade do multiverso Marvel. A escala é esta. Os conceitos são estes. Algo que pode apenas acontecer em histórias de super-heróis. Num lado menos esotérico e mais terreno, continua a excelente surpresa que são os Champions, onde Waid e Ramos produzem uma run que tem tudo para transformar-se num clássico. Este mês temos um confronto com a Atlântida mas numa perspectiva entusiasmante. O escritor insiste em focar-se mais nas personalidades e dinâmicas entre os vários personagens e menos no vilão ou confronto do mês. A qualidade da revista ganha com isso. Mesmo o envolvimento do grupo de super-heróis adolescentes com uma estranha versão de Deadpool não distrai a leitura nem abranda o ritmo e intenção.
No lado místico da editora, Scarlet Witch de James Robinson e Dr. Strange de Jason Aaron e Chris Bachalo, são vitórias mês sim, mês sim. No primeiro, chega ao fim o arco de história que começou no primeiro número, com a revelação do vilão e a coda para o relacionamento da personagem com a sua progenitora (finalmente revelada depois de 50 anos). Também o Dr. Estranho chega ao penúltimo capítulo do confronto com a sua (impressionante) galeria de vilões, aproveitando o mediatismo do personagem de forma idiossincrática e reveladora das inclinações humorísticas do escritor, Jason Aaron. Pela consistência mensal, estas duas revistas são do melhor que a Marvel continua a publicar.
Conseguimos, finalmente, ler o último capítulo do primeiro (e único) arco de Warren Ellis em Karnak. Infelizmente os atrasos e os diferentes artistas prejudicaram a história que, ainda que com a assinatura de qualidade de Ennis, perdeu lustro e interesse. É com muita pena que o escrevo porque prometia ser uma corajosa tentativa da Marvel em publicar algo diferente e único, à semelhança do que estão a fazer com Scarlet Witch: entregar um personagem secundário a um autor de renome.
No que respeita a autores e ao seu trabalho em personagens talhados para a sua sensibilidade, temos o excelente exemplo de Joe Kelly e Ed McGuiness em Spiderman/Deadpool. Apesar das constantes interrupções mensais com outras equipas criativas porque o segundo não consegue desenhar todos os meses um capítulo, é motivo de festejo quando ambos regressam. Este mês, os personagens viajam para um mundo de magia e as motivações de ambos são colocadas em causa, principalmente as do Homem-Aranha. Não é excepcional mas divertido.
Spiderwoman continua a saga do confronto da heroína com um vilão conhecido do mundo Marvel, mas a qualidade que conhecemos nos primeiros números desta nova iteração decresceu significativamente desde a saída do seu desenhista original, Javier Rodriguez. Por seu lado, os Avengers de Mark Waid e Mike Del Mundo melhoram marginalmente este mês, também por focarem o vilão da história, mas continua a ser uma nova (e gasta) exploração do confronto do grupo de heróis com este um já muito antigo inimigo. Estes dois títulos estão muito perto de saírem da Pilha mas ainda há esperança.
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