Super-Heróis DC, o Vício - Fevereiro 2017




Já são muitos anos a virar frangos. Desde os cinco anos de idade a ler Banda Desenhada em geral e de super-heróis em particular. Começou pelo Homem-Aranha e progrediu para todos os outros. Transformou-se em mais do que um vício, que continua até hoje. Todos os meses desloco-me à minha loja de BD favorita e de lá venho com A Pilha. Alguns dos livros dessa pilha leio com mais prazer do que outros, é verdade, mas leio tudo.

Hoje falo da DC e Segunda-Feira da Marvel.

Mulher-Maravilha

Wonder Woman # 14-15

Wonder Woman de Rucka, Sharp e Scott é, sistematicamente, uma das melhores publicações da DC todos os meses. Rucka e Scott acabam o seu Ano Um, uma nova versão da origem da Princesa de Themyscira com a dose certa de evocação à versão que todos idolatramos, a de George Pérez. Focam-se no confronto físico e filosófico entre Diana e o seu maior némesis, o Deus Grego da Guerra, Ares. Por seu lado, Rucka e Sharp decidem colocar a Mulher-Maravilha no manicómio na nova saga The Truth, que promete reintroduzir alguns dos maiores inimigos de Diana ao mesmo tempo que aprofunda A Mentira que é a vida do personagem até este momento. Esta parceira de criadores continua a ser um dos melhores e mais atmosféricos trabalhos alguma vez realizados na Amazona.

Batman

Batman # 14-15-16
Detective Comics # 948-949

Batman de Tom King permanece em crescendo de qualidade e, este mês, recupera o parceiro inicial, o desenhista David Finch, para o que promete ser mais um interessante confronto com o arqui-inimigo Bane - sim, o do filme e o responsável pelo afastamento "definitivo" do Cavaleiro das Trevas na década de 90. Mas antes de passar a essa saga, King explora o relacionamento de Batman com a sua eterna por-vezes-namorada-outra-vezes-vilã: a Mulher-Gato. Os dois capítulos intitulados Rooftops são particularmente felizes, ao explorarem de forma ao mesmo tempo nova e reciclada o relacionamento entre estes dois personagens maiores da BD de super-heróis. Quanto ao confronto com Bane é esperar pelo mês que se segue para perceber o real alcance da saga que, a DC promete, será relevante na vida de Batman

Do lado de Detective Comics temos uma pequena paragem na programação oficial para focar Batwoman e preparar o lançamento da revista homónima da personagem no próximo mês.

Super-Homem

Action Comics # 971-972
Superman # 14-15-16 

Superman de Tomasi é a maior desilusão do mês. Foi a primeira revista que li d'a Pilha, à espera de uma história à minha medida, uma aventura cósmica com os vários Super-Homens do Multiverso. Prometia ser uma sequela ao brilhante Multiversity de Grant Morrison, mas apesar do talento envolvido (Ivan Reis no desenho do primeiro capítulo, por exemplo)  pareceu pouco mais que uma maneira forçada de extorquir dinheiro aos leitores fãs da DC. História apressada. Desenhos apressados. Sem qualquer tipo de pathos e interesse.

Action Comics de Dan Jurgens ganha este mês a Superman apenas porque continua na linha nostálgica e banal que não aquece nem arrefece. Funciona mas pouco mais se espera do trabalho dos artistas envolvidos. Um dos mais importantes personagens da DC merece (muito) mais.

Liga da Justiça

Justice League # 12-13-14
Justice League of America Special: Atom # 1
Justice League of America Special: Vixen # 1
Justice League of America Special: Killer Frost # 1
Justice League of America Special: Ray # 1
Justice League v Suicide Squad # 3-4-5-6 

E enquanto o Super-Homem foi a decepção do mês, a revista principal da Liga, Justice League, foi a maior surpresa. Não só o trabalho de substituição do escritor Tim Seeley foi superior à média de meses anteriores, como Brian Hitch escreve (e, este mês, felizmente, desenha) a sua melhor história, até ao momento, na revista. Seeley foca-se no evento Justice League vs Suicide Squad, escolhendo histórias com o vilão Maxwell Lord e o namorado da Mullher-Maravilha, Steve Trevor.  Hitch aproveita uma invasão à escala macro-cósmica para analisar as personalidades e dinâmicas entre os vários membros da Liga, com resultados bastante positivos. Espero que continue nesta veia.

A saga Justice League vs Suicide Squad acaba de forma divertida mas não reveladora ou excepcional.  O final apresenta surpresas que de surpresa nada têm e acaba por ser um belíssimo representante de "a montanha pariu um rato". A DC poderia ter vendido este evento apenas como uma boa história mas decidiu classificá-la como um "Acontecimento". Acabou por prejudicar.

Os especiais Justice League of America, com enfoque nos membros do grupo que estreia para o próximo mês, Killer Frost, Atom, Vixen e Ray, foram também uma boa surpresa, principalmente pelo trabalho de Steve Orlando no argumento. Nada de excepcional mas uma exploração interessante e agradável das personalidades e passados dos personagens.

Young Animal

Cave Carson has a Cibernetic Eye # 4
Doom Patrol # 4
Shade, the Changing Girl # 04 

A linha de substituição da Vertigo continua com grande força. Doom Patrol é a a melhor das quatro revistas, com Gerard Way e Nick Derrigton a excederem-se na qualidade do trabalho, com enredos surreais q.b., evocativos de Grant Morrison e altamente viciantes. Um dos melhores títulos da DC neste momento.

Cave Carson has a Cibernetic Eye, por seu lado, está apenas uns poucos furos abaixo de Doom Patrol. A aventura subterrânea continua, adensando o mistério, não perdendo a forte sensibilidade estilo Era de Prata mas com uma visão bastante mais madura. Outra vitória da linha Young Animal.

Finalmente, Shade, the Changing Girl, que, no meu entender, perpetua alguns dos tiques menos interessantes de uma escrita "adulta" e "literária" na BD. Diálogos truncados que podem querer veicular confusão mas que criam um fluxo narrativo soluçado. A história continua a acompanhar a jovem alienígena que alojou-se no corpo de uma adolescente suburbana dos EUA mas de forma, a meu ver, pouco entusiasmante.

Outros

Kamandi Challenge # 1
Earth 2: Society # 21
Trinity # 5

Estreou este mês a excentricidade Kamandi Challenge. O conceito assenta em todos os meses uma equipa criativa diferente resolver o cliffhanger elaborado pela equipa do mês anterior.  A revista serve para celebrar os 100 anos do nascimento do rei dos Comics, Jack Kirby, através do regresso a uma dos suas mais queridas e perenes criações para a DC: Kamandi, O Último Rapaz. Estamos num mundo pós-apocalíptico em que animais antropomorfizados governam, divididos por clãs, uma paisagem devastada. História divertida que convida talentos de primeira água para a sua elaboração. 

Earth 2: Society é pornografia para os fãs da DC. A promessa do regresso da Sociedade da Justiça original é um dos pilares do enredo e quase apenas a única razão porque a acompanho. O trabalho do escritor inglês Dan Abnett é, contudo, eficiente, ainda que longe de momentos mais geniais da sua carreira como os Guardiões da Galáxia.

Trinity é uma oportunidade perdida. Poderia ser um dos melhores títulos da DC ao reunir, nas suas páginas, a Santíssima Trindade, mas o trabalho de Francis Manapul é mediano (excepto no desenho onde, aí sim, excede-se). O vilão que acompanha esta aventura desde o primeiro número é, finalmente, revelado, mas sem grande surpresa. O enredo revolve à volta da (outra vez) reciclagem de um outro criado pelo brilhante Alan Moore mas sem a inventividade e maturidade do mesmo.

Sem comentários: