Little Men de Ira Sachs é um filme que passará despercebido para a maior parte dos espectadores de cinema. É uma pequena história sem pirotecnia ou pedigree de óscares mas que é uma pérola escondida nos cartazes que, hoje em dia, têm mais estreias por semana do que antes havia filmes num ano. Tem um realizador pouco conhecido, ainda que não seja novo nestas andanças (no ano passado o Ipsilon considerou o seu Love is Strange como um dos melhores do ano) e os actores não prefiguram nomes do mega-star-system. Apesar de tudo isto, a história e a sua profunda simplicidade deveriam ser vistas por um maior número de pessoas.
Greg Kinnear (o nome mais sonante dos vários actores) é um actor de pouco renome que continua a procurar a fama em peças de teatro alternativas em Manhattan. Após a morte do pai, ele e a irmã herdam um prédio em Brooklyn, para onde vai morar. No rés-do-chão existe uma loja de roupa explorada por uma mulher Chilena. Pressionado pela irmã, pela mulher e por uma situação financeira pouco favorável, decide pedir um novo valor de aluguer à inquilina, com as expectáveis consequências. Paralelo a isto, desenvolve-se uma forte amizade entre os filhos dos senhorios e da locatária, amizade que será posta em questão com a tensão criada pelo conflito entre pais. O preço da loja é pressionando pela crescente gentrificação de áreas como Brooklyn e este comentário, ainda que pouco sublinhado, é o que parece (pelo menos no que me diz respeito) ser um dos mais interessantes de Ira Sachs.
Ambos os amigos têm o mesmo sonho, de poder frequentar uma escola de artes, mas devido à situação gerada apenas um parece fadado a conseguir atingir esse sonho, apenas um possui a sorte, os pais, a circunstância, para fazer valer as suas expectativas de futuro. As circunstâncias conspiram para transformar em desigual o que, à partida, deveria ser igual. Ira Sachs sublinha também que, apesar das aparências de cordialidade e tolerância pela diferença, quando toca à defesa do nosso conforto, esses princípios, se existentes, são postos em causa. Alguém diz, a propósito da peça de teatro que o personagem de Kinnear está a montar, que o papel do actor é compreender os outros. A ironia da situação não é percebida pelo personagem.
O argumento e realização são um excelente exemplo de mostrar pelas acções e não pela verbalização da mensagem. Somos convidados a estar atentos à narrativa, aos personagens, ao enredo, para daí tirarmos as nossas conclusões. Este modo de fazer cinema e arte narrativa é difícil de passar porque, no que acabamos de ver, parece que pouco ocorreu, parece que perdemos umas horas a ver um quase nada. No que a mim me toca, esta é uma das mais estimulantes formas de fazer arte. Uma vitória.
O argumento e realização são um excelente exemplo de mostrar pelas acções e não pela verbalização da mensagem. Somos convidados a estar atentos à narrativa, aos personagens, ao enredo, para daí tirarmos as nossas conclusões. Este modo de fazer cinema e arte narrativa é difícil de passar porque, no que acabamos de ver, parece que pouco ocorreu, parece que perdemos umas horas a ver um quase nada. No que a mim me toca, esta é uma das mais estimulantes formas de fazer arte. Uma vitória.
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