Quando gostamos muito de alguma coisa e falamos muito dela o que sobra para dizer? Quando, sistematicamente, dois criadores de Banda Desenhada entregam livro após livro de puro prazer o que resta a elogiar? Quando temos quase a certeza que este é dos melhores livros a ser publicado actualmente em qualquer arte e formato como podemos convencer, por outras e diferentes palavras, a que os leiam? Quem sabe uma das formas seja olhar para a contra-capa deste sexto volume de Saga e ver que até Alan Moore, mágico ranzinza, lendário escritor de BD, consumado artista de múltiplas palavras, tece elogios. Ou então faz-se algo revolucionário e nunca tentado: lê-se este sexto volume, adora-se este sexto volume e fica-se muito zangado por este sexto volume acabar cedo demais e termos de esperar muito pelo próximo.
Brian K. Vaughan e Fiona Staples parecem não cansar-se de ser imaginativos. As suas mentes são músculos exercitados duas a quatro horas por dia. Mas por mais delirantes que fossem os fluidos criativos deste dupla (e como o são!) existe também algo de ininteligivelmente adulto na escrita e nos desenhos. Não sei se vem do enredo, da sensibilidade, das palavras, mas no meio da fantasia exuberante existe um tecido inquebrável de maturidade. Existe um casal de pais que procuram a filha perdida nos interstícios de uma galáxia longínqua. Esses pais são algo como um Romeu e uma Julieta inter-galácticos, originários de raças em perpétua guerra. A Saga do título é a da miúda, a narradora desde o primeiro quadradinho, mas também é, no caso deste sexto volume, a dos pais, enquanto procuram de forma desenfreada e desesperada pela filha.
A história de Saga não fica-se por estes três personagens. Existe uma multitude de diferentes figuras que se multiplicam pelas páginas e, por vezes, inteiros capítulos. Figuras que são deliciosamente desenhadas de formas tão diferentes por Fiona e que, acima de tudo, sublinham o carácter multi-cultural, multi-sexual, multi-personalidade, desta BD (escusado será dizer que não é para crianças). Aliás, uma das recorrentes temáticas é a necessidade de afirmar que o universo é composto por esta miríade de pessoas tão diferentes umas das outras. E esta é mais uma das formas em que Saga é maduro.
Não tenho vergonha, pejo e reticências em gritar bem alto que esta é das melhores BD's ...não... melhores livros publicados actualmente. Felizmente que está a ser publicado em português de Portugal pela GFloy e numa edição que até é melhor que a dos EUA - as que compro desde o primeiro volume.
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