Enquanto via este último filme de Terrence Mallick ocorreu-me a seguinte história.
A um macaco é oferecido uma máquina de escrever. Ao mesmo tempo, é-lhe dado todo o tempo do mundo o que, para efeitos desta história, quer dizer a Eternidade. Das mãos que dedilham aleatoriamente a máquina saem todas as obras de Literatura escritas pela Humanidade. Shakespeare. Melville, Homero. Saramago. Pessoa. Teclando todas as combinações possíveis de letras e palavras durante a Eternidade o macaco acabaria por "esbarrar" no Hamlet, Moby Dick, Odisseia, Todos os Nomes, O Guardador de Rebanhos. Era inevitável.
Terrence Mallick, na minha cabeça, parece fazer o mesmo com os seus filmes. Mas ao mesmo tempo faz algo diferente. Os actores. As paisagens. O pôr do sol. Não são mais que ocorrências aleatórias que ele cola em volta de uma narrativa fugidia. Ele não conta a história, antes procura agarrá-la com imagens. Uma relação entre dois filhos e um pai. Um filho com problemas de compromisso que salta de mulher em mulher como se quisesse ter todas as pérolas do Oceano.
Os actores que o ajudam parecem estar ali para dar-lhe uma coleção de cromos de temas completamente diferentes uns dos outros e que ele une depois, procurando a fugaz teia da trama. Os diálogos não são importantes (quase não existem). Antes existe a voz de um narrador omnipresente e omnisciente que debita frases desconexas mas que na realidade (na cabeça do Autor) não o são. As imagens seguem-se umas às outras como fotografias, como momentos, unidos pela beleza, unidos pelo olho existencialista de Mallick.
Isto não é Cinema apenas. É Cinema de Terrence Mallick. E acredito que, para muitos, não seja nada de especial ou interessante (como não o foi para uma senhora que já dormia ao meu lado na sala de cinema). Para mim foi. Eu adorei.
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