(Como na Música, como na Literatura, no Cinema existem inúmeras obras a serem realizadas e lançadas. Algumas saem no circuito comercial português, outras apenas em festivais. Muitas nem em um, nem em outro. A maior parte talvez devesse ter ficado na imaginação dos autores. Outras mereceriam um destino melhor)
Nas discussões descontraídas sobre Cinema Americano vs Cinema Francês aparecem sempre duas diferenças entre um e outro. O primeiro tem armas, tiros e acção desenfreada. No segundo aparecem sempre pessoas nuas e sexo, muito sexo. Para a nossa realidade europeia, onde a posse de arma não está consagrada em nenhuma Constituição e onde não é permitido, em nenhuma circunstância, andar na rua com uma (sim, Texas, estou a falar de ti), não nos parece natural o abraço que os EUA fazem a esta realidade, digamos, bélica. Para nós (principalmente para os franceses), o sexo é mais facilmente aceite. Existe, obviamente, o pudor, a religião, que andam de mão em mão, mas não deixa de ser o mais natural dos actos, perdoem-me o lugar comum.
Gaspar Noé nunca foi um realizador fácil, com todo o peso que esta afirmação pode ter. Irréversible e Into the Void são obras no mínimo estranhas (e que adoro). Love já andava nas bocas e mexericos do mundo desde que foi anunciado como sendo "verdadeiramente pornográfico". Estreou em Cannes com algum alarido mas não me parece ter suscitado reações particularmente entusiasmantes. Ora, ser ou não pornografia é, de facto, algo importante para a maior parte das discussões sobre este filme mas, sinceramente, não me parece que deva ser o único ponto de conversa.
A primeira cena e o primeiro plano não deixam margem para dúvidas quanto à forma como Noé trata o sexo neste filme. Acontece às claras a partilha de intimidade entre o casal. Todas as pistas essenciais para perceber as cenas de sexo estão no título do filme. Esta é um história de amor onde entramos no quotidiano mais pessoal da vida de um casal. Mas, mais que isso, Noé tenta transmitir para o ecrã a verdadeira intensidade de um amor pleno e profundo. Nem sempre o consegue, recorrendo, em mais episódios que um, a alguma repetição e (para muito imagino) alguma banalidade e gratuidade. Que fiquem já avisados que existe sexo explicito mas não da forma como em, por exemplo, Os Idiotas de Trier ou 9 Songs de Michael Winterbottom.
A história é relativamente simples. Rapaz e rapariga apaixonam-se. Ele faz algo do qual se vai arrepender. Os sentimentos são explorados pela câmara de Noé, que entra de forma despudorada nas palavras, beijos e cama dos protagonistas. Um filme poderoso, difícil e, sem duvida, que não é para todos os gostos.
Era para ter estreado em Portugal no passado dia 11 de Fevereiro mas, por razões que desconheço, não foi. Serão as óbvias? Duvido, mas espero que alguém se arrependa e o lance mesmo que em sessões mais nocturnas - não que já não tivessem estreado filmes bem mais "arrojados" do que este e ninguém gritou que iríamos parar ao inferno. Se estivéssemos no Texas se calhar a reacção era outra.
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