Começou! Aquela parte do ano em que já vimos todos os filmes sobre histórias reais que são candidatos a Óscares (eu gostava que vencesse Mad Max, por falar nisso). Aquela parte do ano em que podemos então esquecer a seriedade e voltar à fantasia. Nunca fui muito a favor desta espartilha do ano no cinema mas as coisas são como são e não são de outra maneira. Deadpool, inspirado numa personagem de Banda Desenhada da editora Marvel, é o meu primeiro filme deste tipo de fornada em 2016. Como é costume, não vou estar com rodeios: adorei Deadpool. É um filme de super-heróis muito diferente dos ao estilo Marvel/Disney, que se têm multiplicado como cogumelos pelos ecrãs de cinema. É violento. É profano. É sexualmente activo. É profano sexualmente. É ultra-violento (já tinha dito isso, não?!). E Ryan Reynolds, para mim que nunca fui mais que um leitor muito casual da BD, é perfeito.
Para quem não está familiarizado com o personagem, nasceu nos anos 90, quando cada super-herói criado ou recriado parecia injetado com doses industriais de esteróides, veias a transbordar por músculos que nem o melhor dos cirurgiões sabia existirem. Regra geral, tinham como fiel companheira uma ou mais armas, maiores que uma perna de elefante, e matavam, desmembravam e mutilavam todos os vilões que lhes apareciam. Um dos grande ícones desta "vaga" foi Cable, um mutante vindo do futuro, que apareceu na revista New Mutants (um spinoff dos X-Men) número 90, datada de Março de 1990. Meros oito números depois, pela imaginação dos dois autores, Rob Liefeld e Fabian Nicieza, aparecia Deadpool, o mercenário fala-barato (Fevereiro de 1991). Após várias aparições em diversas revistas acabaria por, em 1997, conseguir a sua própria, pelo talentos de Joe Kelly e Ed McGuiness. Nas duas décadas que se seguiram, cresceu em fama dentro do universo Marvel, uma combinação homicida de Bugs Bunny com Wolverine e o Homem-Aranha. Um mercenário capaz de curar qualquer ferida, sem moral e com uma boca que metralhava piadas a 10 000 km/h. De facto, como poderia não ser famoso?
Após uma aparição no sofrível filme X-Men Origins: Wolverine, que é obrigatória esquecer, finalmente a Fox decidiu dar liberdade a Ryan Reynolds e aos escritores, que, por sua vez, ofereceram rédea solta ao cavalo louco que é Deadpool. Mesmo eu que nunca fui um grande leitor da personagem, fiquei imediatamente cativado pelos insultos, palavreados, profanidade, violência e boçalidade do Merc With a Mouth. Do principio ao fim, estamos num Looney Tunes para adultos (ainda que na ultima parte do filme desaceleram um pouco para o lado mais "normal" dos super-heróis - mas só um pouquinho). A narrativa é relativamente convencional mas o personagem é tudo menos isso, o oposto do elevado paradigma moral que são, por exemplo, o Capitão América e o Homem-Aranha (neste filme substituídos pelo mutante Colossus, uma espécie de comic relief com sotaque russo). A aposta pessoal de Ryan Reynolds (também produtor do filme) é mais que ganha, não só pela sua prestação como pelo produto final como um todo - os números deste primeiro fim-de-semana assim o provam: sucesso na bilheteira mundial. Quem diria que um filme de super-heróis com um anti-herói homicida estreado no fim-de-semana de dia de namorados teria tanta aceitação?
PS - A campanha publicitária foi genial, como este poster abaixo o prova.
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