Onde estão as coisas Selvagens? No Lux Frágil.


Confissão: com esta última presença no Lux Frágil, dia 8 de Outubro de 2015, já vi as Savages cinco vezes. A primeira foi no Primavera Sound de 2013 e fiquei complemente viciado. Seguiram-se o Mexefest de Lisboa, um concerto a solo no Porto, outro no festival Superbock deste ano de 2015 e, finalmente, ontem, no Lux Frágil. As quatro meninas vêm gravar um teledisco em Portugal e decidiram, em cima da hora, "oferecer" aos portugueses uma presença bem intimista na famosa discoteca lisboeta. O que dizer que eu próprio já não tenha dito ou que outros não o tenham feito? Como é possível reproduzir para os que não apreciam ou ainda não as viram a sensação de as ver repetidamente ao vivo? Gostos não se discutem e a descrição de experiências é apenas província dos mestres da escrita como Tolstoy. 

Eu sou um fã da secção de ritmo do grupo. A baterista e a baixista, mais resguardadas, são sempre as que observo com mais atenção, porque é delas que nasce a onda que arrasta os sons violentamente melodiosos das Savages. Uma vez mais e na (sempre) última música do alinhamento, Fuckers, é a linha de baixo de Ayse Hassan que anuncia os oito a dez minutos que se seguem, os dos famosos "Don't Let the Fuckers Get You Down", quase todos sublinhados pela bateria forte, inventiva e primal da brilhante Fay Milton. Passar a noite na primeira fila a ver estas duas músicas a esticar pela batida sincopada e seca do som punk das Savages é uma obra de arte em sim mesma. E que vale, só por si, todo o dinheiro que se paga para as ver.

Um dos elementos mais discretos do grupo é a guitarrista Gemma Thompson mas , também ela, passo a passo, estica a corda e subverte o silêncio até que, em canções como Shut Up, o dedilhar contorcionista toma a sala. E, claro, a mais que carismática Jehnny Beth consegue (literalmente) arrastar a multidão a fazer tudo o que ela comanda. Um dos momentos altos da noite de ontem foi quando Beth obriga os que estavam mais atrás a espremerem os que estavam mais à frente (eu incluído), para poderem experimentar todo o grito, todo o salto, toda a euforia. E o grito, o salto e a euforia foram gerais, totais e reais.

A noite teve muitas surpresas mesmo para quem já as viu várias vezes. Muitos temas novos foram apresentados, alguns deles ainda mais punk, ainda mais capazes de colocar a multidão a saltar ao estilo Song 2 dos Blur. E as Savages fizeram algo que, na sua vida como músicas, apenas ofereceram duas vezes, esta incluída: um encore. Contudo, mesmo que o alinhamento deste concerto fosse exactamente igual ao da primeira noite do Primavera Sound valeria todos os minutos, todos os segundos. Porque quem gosta das Savages, gosta das Savages. Porque todas as noites em que nos presenteiam com a sua performance são uma bênção.

Savages para sempre. Fay Milton para sempre.

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