Quem me dissesse há uns anos atrás que um dos meu realizadores favoritos da actualidade era português eu acharia que era maluquinho. Quem me dissesse que eu estaria ansiosamente à espera do próximo filme de um realizador tuga eu iria rir-me na cara dessa pessoa. Sim... eu tinha (e, provavelmente, ainda tenho) alguns preconceitos acerca da cinematografia lusa. Que é chata. Que não sabe contar histórias. Que preza a insondabilidade. Que os filmes da maior parte dos realizadores portugueses querem e orgulham-se de serem anti-comerciais. Não há nada de mal com isso. Haviam os que eu gostava e muito. Contudo, a maior parte eram para esquecer no exacto segundo em que começavam a rolar os créditos finais. Em oposto, quando, por vezes, lá se tentava o comercial muitos eram os casos que redundavam no boçal e no simplista (Será a cinematografia portuguesa bipolar?).
Eis que aparece Miguel Gomes.
Quer Tabu, quer Aquele Querido Mês de Agosto eram exemplos de algo diferente, assumidamente cinema complexo mas com um fluir de história claro, com preocupação em ser "legível", mesmo que imerso de alegoria e de metáfora. A linguagem de Miguel Gomes é totalmente sua, ou não apresentasse tiques típicos do auteur. Enquanto Tarantino vive obcecado com pés e comida, Gomes é fascinado com o a ruralidade, com o Portugal das serras e dos vales, das aldeias de granito, da população envelhecida. Não deixa de aqui existir uma fixação que é comum no cinema português mas a diferença é a clareza da mensagem de Gomes e o seu delicioso sentido de humor, outra assinatura tão rara no cinema feito em Portugal. Um humor corrosivo, sim, destrutivo, também, mas incrivelmente acessível e certeiro.
Miguel Gomes consegue também uma proeza tão parca na narrativa cinematográfica lusa: controla a arte de contar uma história. Qualquer um dos três episódios deste segundo volume não deixa de possuir um leve desvio à linearidade mas não em detrimento da clareza. A segunda história, particularmente, As Lágrimas da Juíza, é um exemplo acabado desta capacidade que Miguel apresenta. Através de humor, de um controlo da história e de muita alegoria e metáfora, explica na perfeição a estado do lodo que é Portugal.
Falta ainda o terceiro volume mas, até o momento, As Mil e Umas Noites de Miguel Gomes é sinfonia em imagens e narrativa. Temos autor.
Miguel Gomes consegue também uma proeza tão parca na narrativa cinematográfica lusa: controla a arte de contar uma história. Qualquer um dos três episódios deste segundo volume não deixa de possuir um leve desvio à linearidade mas não em detrimento da clareza. A segunda história, particularmente, As Lágrimas da Juíza, é um exemplo acabado desta capacidade que Miguel apresenta. Através de humor, de um controlo da história e de muita alegoria e metáfora, explica na perfeição a estado do lodo que é Portugal.
Falta ainda o terceiro volume mas, até o momento, As Mil e Umas Noites de Miguel Gomes é sinfonia em imagens e narrativa. Temos autor.
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