São muitos os estudiosos da arte de contar histórias, dos enredos que regem a narrativa. Há quem diga que o número mágico são sete, que ocorrem apenas sete tipos de história na História das Artes narrativas. Vamos acreditar nestes mestres escolásticos: existe um número limitado de conflitos que são explorados nos livros que lemos, nos filmes que vemos, nas pinturas que observamos. O que as diferencia não é, portanto, a originalidade do enredo mas a forma como esse enredo é abordado pela personalidade do(s) autore(s). O prisma. O ponto de vista.
Uma realidade dos dias de hoje é que graças à propagação da democracia no mundo ocidental, ao desenvolvimento económico, a produção e consequente procura de Arte é esmagadora. Existem milhares de livros, milhões de músicas a serem produzidas diariamente. Associemos a isso o advento da Internet nos últimos 20 anos e temos a receita para o crescimento exponencial da oferta. A concorrência é extrema e a originalidade necessária para um autor destacar-se é cada vez maior (pressupondo que esta é a única razão para que um autor se destaque).
Muitas são as vezes em que esta busca de originalidade "obriga" a sucessivas iterações sobre um mesmo tema ou um mesmo arquétipo, na desesperante procura de algo novo. Veja-se a moda dos vampiros de há uns anos atrás. A versão original de Bram Stoker foi diluindo-se em sucessivas versões mais brandas, de sexualidade que oscilava entre o soft porn e o erotismo juvenil (não há nada de mal com isto, sublinhe-se). Em resposta, outros autores tentam o regresso à versão original da história, na maior parte das vezes mais crua (quem nunca leu sobre o facto de a Disney diluir as versões originais dos contos de fada não sabe o que perde). É o caso de Scott Snyder que não só fez regressar uma versão aterrorizante das bruxas, devolvendo o nome maldito de que gozaram durante séculos, como o fez socorrendo-se do próprio passado, fornecendo a esta história um cunho pessoal.
Não irei focar-me sobre o enredo deste Wytches, esperando que as poucas palavras que escrevo aticem a vossa curiosidade. Snyder é muito conhecido pelo actual trabalho em Batman mas entrou na BD dos EUA pelas mãos do mestre da Literatura de Terror, Stephen King, com a obra American Vampire. Wytches, publicada pela que acho ser a melhor editora de BD das terras do Tio Sam, a Image, é uma nova exploração nesse género, desta feita com o desenhador Jock. O complemento entre os dois é feliz mas, para mim, a apreciação do género do Terror na BD é sempre algo particularmente limitado. São raros os casos em que me causam o mesmo impacto que no Cinema, onde tenho mais contacto com este tipo de narrativa. Mas Wytches não deixa de ser um triunfo interessante (mas não genial) da 9.ª Arte, feito com as melhores ferramentas de dois excelentes artistas. A arte de Jock, quase sempre um esboço mal definido, funciona particularmente bem para o argumento, ao tornar as ameaças difusas e quase psicológicas.
Em suma, fico à espera (ainda que não totalmente entusiasmado) pelo segundo volume.
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