Os filmes de fantasia ou de qualquer outro tipo de desvio, mesmo que marginal, da realidade, são a excepção dos nomeados aos Óscares. É lugar comum encontrar dramas familiares, personalidades idiossincráticas ou os famosos biopics. Não sei se será por tradição mas, nesta altura do ano, existe um esforço particular dos escritores, actores, realizadores e editoras em lançar toneladas de filmes que são uma variação de um ou mais dos temas acima. Por exemplo, este ano de 2015, está recheado deste tipo de cinematografia e os três filmes de que falo neste post são disso prova. É verdade que existem dois outros, Boyhood e Birdman, que, apesar de bastante diferentes em forma, não deixam, à sua maneira, de abordar uma dessas temáticas queridas aos "senhores da academia". São, contudo, filmes bastante diferentes e, na minha opinião, de qualidade superior (a minha esperança vai para Boyhood e para RIchard Linklater).
Acima de tudo, The Theory of Everything , Selma e American Sniper aparentam ser veículos para os actores, palcos onde podem exibir todas as suas capacidades transformativas. Especialmente se falarmos de Eddy Redmayne e Bradley Cooper, que fazem das tripas coração para encarnar da melhor forma possível as personalidades (reais) que escolheram, Stephen Hawking e Chris Kyle, respectivamente. A qualidade de cada um deles é indiscutível e, claro, é sempre injusto qualquer tipo de comparação mas, por exemplo, em relação à primeira interpretação, já Daniel Day Lewis fez muito melhor (ou, simplesmente, já o fez) em My Left Foot. O que acaba por parecer é que os tecelões destes filmes querem uma forma segura de candidatar-se ao Óscar, fazer algo que já está provado como capaz de provocar as reacções certas nos membros da Academia. Nesse sentido, tenho de elogiar o trabalho de David Oyelowo como Martin Luther King em Selma, que me parece particularmente superior a qualquer um dos outros dois mas, ainda assim, inferior ao meu favorito para Óscar de Melhor Actor, Michael Keaton (não vi Steve Carrel em Foxcatcher).
O trabalho do realizador nestes três filmes parece relegado ao mero "apontador-de-câmara", o que, eu sei, também é muito injusto de se dizer. Dos três, é de Clint Eastwood que tenho mais pena. Este é o homem que criou o extraordinário Mystic River, por exemplo, mas de quem não se vê um átomo, antes um aparente propagandista (ou será documentalista, não sei bem) de um estilo de Homo Americanus, perdoem-me a expressão. Parece que estou a fazer um julgamento de valor mas não. American Sniper acompanha de forma bastante "limpa" a vida de um homem do Sul, desde os seus primeiros dias enquanto caçador até aos momentos que o transformam no maior atirador da História militar dos EUA. Não há esforço de ironia, crítica ou, pura e simplesmente, de ambivalência - Eastwood parece acreditar em Chris Kyle e não há nada de mau com isso.
De James Marsh não conhecia nenhum dos seus trabalhos (ainda não vi O Homem no Arame) e este seu Theory of Everything não me dá nenhuma indicação de que tipo de realizador se trata. Já Ava DuVernay surpreendeu pela positiva. Estreante, confesso que uma entrevista que deu no 60 Seconds tinha me demovido de ver este filme. Contudo, lá me convenceram e parabéns, temos realizadora. Ainda que a história pareça demasiadamente "lavada" em alguns pontos de modo a ser facilmente consumível pelos Óscares, dos três foi, para mim, o que mais personalidade demonstrava. E, claro, tem a fotografia de Bradford Young, de cuja arte já tinha gostado no A Most Violent Year.
Resumindo, três filmes normais e apropriados para os Óscares. Quanto a mim, prefiro Boyhood e Birdman.
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