Estava à espera deste volume há já algum tempo. Os anteriores tinham sido lançados pela ASA mas, por razões que desconheço, tardava a sair este último. Políticas editoriais à parte, chegou tarde mas chegou, e todos os portugueses podem somar à sua colecção o mais recente episódio da famosa saga franco-belga, Blacksad (ou será antes espanhola, tendo em consideração a nacionalidade dos autores?).
Blacksad segue uma escola muito interessante da BD, a da antropomorfização dos personagens. No universo desta saga, John Blacksad, um belo gato preto, é o nosso herói e um detective ao estilo Raymond Chadler / Literatura noir (gato preto? noir? Perceberam?), que se movimenta nos EUA na época da lei seca, um dos momentos mais explorados por este tipo de prosa. Todos os lugares comuns são explorados, mas desprovidos de deslumbramento. Os autores antes abraçam sem preconceitos e com extrema segurança esses clichés, colocando-os ao serviço da narrativa e não o oposto. Há estilo com substância. Provavelmente, esse sentimento, junto com os extraordinários desenhos de Juan Guarnido, contribuíram para um todo que tem conseguido agarrar a atenção do público mais exigente da BD, já que esta obra é transversal na sua aprovação.
Amarillo começa em Nova Orleães, um dos mais essenciais e míticos locais dos EUA, quer para conhecer o país desta época, quer de outra qualquer . Num ambiente de boémia, poetas e violência, John Blacksad decide viajar pelas planícies norte-americanas, levando um carro de um cliente desde esta cidade até Tulsa. Um escritor com a forma de um leão e um seu companheiro bisonte irão cruzar-se no caminho do herói. O leão vive em perpétuo conflito entre a necessidade de perseguir um estilo de vida capaz de inspirar grandes obras ou de viver desafogadamente com os lucros do seu talento.
A leitura de Blacksad é sempre feita por camadas. Podemos apreciar o livro de forma leve e descontraída ou procurar significados na escolha antropomórfica dos personagens. Amarillo não é excepção. Contudo, ao contrário dos volumes anteriores, este parece não explorar o enredo da mesma forma. Talvez porque a história tenha sabido a algo já visto e explorado em outros locais, não me relacionei de forma mais profunda. O sentido de tragédia que me conquistou em histórias anteriores está aqui presente mas com um conteúdo menos interessante para mim. Ainda assim, estamos a falar de pequenas reservas num todo que é muito mais que satisfatório. Blacksad é um livro que recomendaria a toda a gente sem excepção, pela universalidade da abordagem, pela beleza dos desenhos e cenários, pela história.
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