Grant Morrison continua a exploração do novo multiverso da editora DC Comics, com este volume no qual viajamos para as Terras 20 e 40. A escolha nos números não é aleatória, já que os personagens de ambos manifestam-se em opostos, o preto de uma sendo o branco de outra, o que seria Bondade é, na realidade, Mal. O conceito de terras opostas não é novidade nesta editora, tendo sido inaugurado com a criação da Terra-3 na década de 60, onde habitavam versões maléficas da Liga da Justiça (a equipa que reúne o Super-Homem, Mulher-Maravilha e Batman). Morrison, neste segundo capítulo de Multiversity, trabalha uma variação deste conceito, misturando-o com outros da palete que compõe a vasta biblioteca de personagens da DC Comics.
Em Society of Super-Heroes: Conquerors from the Counter-Worlds, vamos poder ver uma variação da primeira equipa de super-heróis da história da BD, a Sociedade da Justiça, em versões ao estilo pulp (quem sabe quem é Doc Savage?), habitando um mundo onde a utopia da paz foi alcançada. Graças à intervenção dos seus heróis e especialmente de Doc Fate o mundo atingiu um estado de harmonia tecnológica e social antes apenas sonhada e filosofada (Nota: Reparem que é Doc e não Doctor, o que não é um acaso, antes se refere às raízes da influência pulp). Mas num multiverso interligado, a balança cosmológica deve sempre ser equilibrada e nenhuma boa acção deve permanecer impune ao castigo. Um vilão de uma contra-terra, Vandal Savage, ataca o mundo pulp num frémito de conquista e sangue. A guerra estender-se-à a dois universos, um conquistado por temíveis seres do Mal e outra defendida pela SOS, liderada por Doc Fate e composta por, entre outros, o Homem-Imortal, reflexo antagónico do também imortal Vandal Savage.
O cenário é conhecido e deliciosamente grandiloquente, ao bom estilo da BD e de Morrison, que nunca se pautou humildade e sobriedade. Na sua constante busca por uma palco cada vez mais universal, brincar com os brinquedos da "multiuniversalidade" é algo a que dificilmente se recusaria. Mais ainda se, no meio disso tudo, pode jogar com os conceitos e "vidas" de personagens tão perenes como a Sociedade da Justiça, Blackhawks, Homem-Imortal, Vandal Savage, etc. Para o seu lado convocou Chris Sprouse, que já tem experiência no mundo pulp, depois de ter desenhado as aventuras de Tom Strong, personagem criado por Alan Moore, com fortíssimas raízes neste tipo de literatura. Os desenhos deste autor são, de facto, bastante apropriados, mas depois da excelente prestação de Ivan Reis no volume anterior, cujo traço tão bem se entrega aos super-heróis, fica sempre um sabor a pouco. Contudo, é algo que depressa nos esquecemos com a leitura sempre vertiginosa e "psicotropicamente" inventiva de Morrison. Muito dificilmente irão ler uma série tão deliciosa nos próximos tempos.
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