Mathieu Amalric é mais conhecido por ser ator do que realizador. Não estava ciente das qualidades deste senhor como maestro da câmara e, confesso, fiquei agradavelmente surpreso. Com uma história adaptada de Georges Simenon, Almaric realiza e protagoniza um enredo que envolve casamento, casos extra-conjugais e assassinatos.
A história está longe de ser o ponto forte deste filme. Antes os apontamentos de realização e fotografia é que elevam este O Quarto Azul a mais do que uma tentativa falhada de atores a quererem dar um passo mais comprido do que as pernas permitem. O jogo de luzes e cores, os enquadramentos escolhidos, a velocidade do filme, todos estes elementos são particularmente bem manietados por Almaric, que torna o mundano em algo maior. Não deixa de sofrer alguns tiques de "primeiro esforço", muito à semelhança do que Tom Ford, por exemplo, tinha feito no seu A Single Man. Quer mostrar que é capaz de muito mais do que apenas um "filme de actores". Quer mostrar que consegue a sensibilidade, o je ne sais quoi, a que são obrigados os grandes realizadores a ter. Em alguns pontos podemos quase começar a entrever pelo canto do olho, aquele plano mais belo, mais diferente, mas, ao contrário de Tom Ford, que não se esqueceu do seu background de estilista, Almaric não se deixa deslumbrar demais. Existe mesmo contenção, quase sempre se cingindo ao quarto azul para deixar voar a sua veia de artista.
Um filme que não é excepcional mas que surpreende pela qualidade e sensibilidade da realização.
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