É difícil colocar em palavras ou encontrar o termo correcto para descrever a sensação que tenho quando adoro um livro, amo uma música ou fico apaixonado por um filme. Sair de uma sala de cinema e ter a certeza que fiquei derrubado pelo que acabei de ver é algo difícil de descrever. Portanto, peço-vos: lembrem-se de como é esse sentimento. Esforcem-se por recordar o prazer que é ver, sentir, cheirar, comer, algo que vos deixa siderados. Não porque é "bem" gostar daquilo, não porque é apropriado, não porque está na moda, mas porque efectivamente gostaram. Gostar é melhor do que "este é um grande filme". Gostar é maior que "obra-prima". Gostar é nosso e só nosso e os outros que se fodam. Dito isto...
Eu gostei muito de Gone Girl do David Fincher e (tenho de dizê-lo) de Gillian Flynn - a escritora do livro que deu origem a este filme e quem fez a adaptação para screenplay.
(A partir de agora aconselho a que prossigam com algum cuidado. Não vou revelar o enredo de um filme que muito assenta na surpresa, mas vou escrever sobre o que senti ao vê-lo)
Primeiro que tudo, estive defronte de uma história que me deixou derrotado. Camadas e mais camadas, num argumento rico em tudo o que , para mim, faz funcionar uma história. Não são tanto as surpresas (mas também são). Não é tanto a constante mudança de foco e os famosos twists (mas também é). É, através do uso da linguagem do entretenimento, do thriller, do suspense, construir um gigantesco comentário ao mundo atual, às nossas paranóias, ao "zeitgeist" (palavra que adoro), à alma deste início do século XXI - Hitchcock também o fazia. Mas, para que não se torne algo demasiadamente "actual" e, portanto, acabe por cair no esquecimento do "passar dos anos", aproveita para falar de algo mais intemporal: do relacionamento entre os homens e as mulheres; do casamento; dos desejos dos homens; dos anseios das mulheres. Como se isto não fosse bastante, provavelmente elucida-nos ainda acerca de outra coisa : de que a história é sempre melhor que a verdade.
Além de um argumento brilhantemente construído temos um extraordinário realizador, um mestre da 7.ª Arte: David Fincher. Como se não bastasse a este senhor ter feito dois dos filmes mais paradigmáticos da década de 90, Se7en e Fight Club, entrega-nos agora um outro, este, como já disse, um emblema deste início de século. Como é possível não só isto mas também conseguir explorar as suas paranóias e tiques numa história que não é originalmente sua? Novamente, como nos dois filmes anteriores, nada é o que parece e os personagens escondem algo temível e negro, algo que escondem do mundo. Dizem que os grandes realizadores têm sempre algo recorrente nas suas histórias. Se esse é o caso, acho que esta é uma de Fincher. Tarantino tem os pés e a comida. Nolan, as esposas mortas. Kiewsloski, a crença em Deus. Fincher, os personagens duplos, escondendo do mundo (e, por vezes, de si mesmo) quem na realidade são.
(Existe outra similaridade com um dos dois filmes que referi do realizador mas, sinceramente, não vou revelar porque não só é óbvia para quem o ver como também vos estragará a surpresa)
Fincher parece ter esquecido os seus tempos de realizador de videos de música e envelhecido em sobriedade. Os seus filmes não são apenas uma tentativa gritante de escrever em letras neon "eu estou aqui". São agora mais contidos, sóbrios, discretos, mas sem esquecer personalidade. Não restam duvidas que este é um filme de David Fincher. Muito se deve também à maravilhosa mão de Jeff Cronenweth, o "fotógrafo" de serviço, aquele que tem a seu cargo a cinematografia do realizador desde há muito e muito tempo (Fight Club, para ser mais exacto). Já agora, não convém de todo esquecer o trabalho de Trent Reznor, encarregue de algumas bandas sonoras de Fincher desde Se7en. São anos de trabalho em conjunto, na criação não de uma máquina oleada mas de uma companheirismo sólido, onde todos se confiam e conhecem.
Finalmente, os atores. Não só Ben Affleck e Rosamund Pike são excelentes castings, como Fincher decidiu apostar em muitos atores da TV, gritando ao mundo que as séries de televisão não são há muito tempo o parente pobre do Cinema (não se esqueçam que o realizador fez os primeiros episódios da excelente House of Cards). Temos Neil Patrick Harris de How I Met Your Mother, Casey Wilson de Happy Endings, Sela Ward de Dr. House e CSI:NY. Até há uma perninha de Emily Ratajkowski, a glamour model que ficou conhecida pela versão para adultos do vídeo musical de Blurred Lines.
Em resumo, isto é, para mim, Cinema perfeito. Espero que gostem como eu gostei.
Além de um argumento brilhantemente construído temos um extraordinário realizador, um mestre da 7.ª Arte: David Fincher. Como se não bastasse a este senhor ter feito dois dos filmes mais paradigmáticos da década de 90, Se7en e Fight Club, entrega-nos agora um outro, este, como já disse, um emblema deste início de século. Como é possível não só isto mas também conseguir explorar as suas paranóias e tiques numa história que não é originalmente sua? Novamente, como nos dois filmes anteriores, nada é o que parece e os personagens escondem algo temível e negro, algo que escondem do mundo. Dizem que os grandes realizadores têm sempre algo recorrente nas suas histórias. Se esse é o caso, acho que esta é uma de Fincher. Tarantino tem os pés e a comida. Nolan, as esposas mortas. Kiewsloski, a crença em Deus. Fincher, os personagens duplos, escondendo do mundo (e, por vezes, de si mesmo) quem na realidade são.
(Existe outra similaridade com um dos dois filmes que referi do realizador mas, sinceramente, não vou revelar porque não só é óbvia para quem o ver como também vos estragará a surpresa)
Fincher parece ter esquecido os seus tempos de realizador de videos de música e envelhecido em sobriedade. Os seus filmes não são apenas uma tentativa gritante de escrever em letras neon "eu estou aqui". São agora mais contidos, sóbrios, discretos, mas sem esquecer personalidade. Não restam duvidas que este é um filme de David Fincher. Muito se deve também à maravilhosa mão de Jeff Cronenweth, o "fotógrafo" de serviço, aquele que tem a seu cargo a cinematografia do realizador desde há muito e muito tempo (Fight Club, para ser mais exacto). Já agora, não convém de todo esquecer o trabalho de Trent Reznor, encarregue de algumas bandas sonoras de Fincher desde Se7en. São anos de trabalho em conjunto, na criação não de uma máquina oleada mas de uma companheirismo sólido, onde todos se confiam e conhecem.
Finalmente, os atores. Não só Ben Affleck e Rosamund Pike são excelentes castings, como Fincher decidiu apostar em muitos atores da TV, gritando ao mundo que as séries de televisão não são há muito tempo o parente pobre do Cinema (não se esqueçam que o realizador fez os primeiros episódios da excelente House of Cards). Temos Neil Patrick Harris de How I Met Your Mother, Casey Wilson de Happy Endings, Sela Ward de Dr. House e CSI:NY. Até há uma perninha de Emily Ratajkowski, a glamour model que ficou conhecida pela versão para adultos do vídeo musical de Blurred Lines.
Em resumo, isto é, para mim, Cinema perfeito. Espero que gostem como eu gostei.
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