Ano após ano, Woody Allen continua a pôr para fora do seu sistema filme atrás de filme. Umas vezes saem piores, outras melhores. Uns mais dramáticos, outros mais sérios e pessimistas. Mas todos sempre com uma pitada (grande no primeiro caso, mais pequena no segundo) de humor. Magia no Luar cai no estilo do primeiro. Servido com muito do já bastante conhecido estilo de riso e sorriso com que há mais de quatro décadas presenteia quem o segue religiosamente. Aqui no nosso Portugal, por uma razão ou por outra, quando sai um novo de Allen ocorre uma certa romaria religiosa às salas de cinema, feita por mais do que um perfil socio-económico. Este novo filme não deverá ser excepção, porque tudo o que atrai em Woody está lá: um protagonista ranzinza e egocêntrico cheio de humor caustico; uma panóplia de personagens coadjuvantes na fronteira do sublime e patético, mas todos deliciosos; uma situação ridiculamente estranha.
Nem todos os filmes do Woody Allen são sublimes. Apenas uns poucos conseguem subir à estratosfera. Mas, como acho que já o disse neste Blog em relação a ele e a outros realizadores, um mau filme deste senhor continua a ser um bom filme quando comparado com o produto esforçado de tantos outros. E, ainda por cima, este Magia ao Luar é bom cinema. Nota-se sabedoria na forma como a história está contada. Confesso que tenho particular atração pela sabedoria anciã (o Woody que me desculpe este termo) temperada por grandes doses de humor. Não levar as coisas a sério parece-me uma abordagem saudável e, acima de tudo, inteligente. O Senhor Allen tem disto em doses cavalares. No meio de tanto trocadilho e esgrima de galhardetes entre personagens o realizador vai passando pedaços de conhecimento que acha serem úteis. Mesmo que banais, mesmo que senso comum, são apresentados de forma tão profunda e humorística que tendem a ficar gravados (pelo menos em mim) mais depressa do que uma mensagem servida com carga mais dramática. Além disso, a arte de contar histórias é já de tal forma uma segunda natureza para Allen que nem nos apercebemos que, no meio daquele capacidade maravilhosa de entreter que tantos dos grandes autores têm, foi-nos ensinado qualquer coisa de útil. Mesmo que apenas mais um pequeno tijolo no grande edifício.
Os atores parecem não deixar de acorrer aos magotes para fazer um filme com o realizador. Colin Firth e Emma Stone são apenas os mais recentes e generosamente presenteados pelas maravilhosas palavras de Allen e pela complexidade dramática dos personagens que têm de apresentar. Já mais do que uma atriz deve o seu Óscar ao realizador e Emma Roberts, apesar de não ter (ainda) um papel tão gordo como o tiveram Penelope Cruz ou Cate Blanchett (apenas para citar as mais recentes), já tem muito com que degustar. Colin Firth está também maravilhoso, revelando para os mais distraídos o excelente ator que é, robusto o suficiente para fazer papéis dramáticos e humorísticos.
Parabéns, Woody Allen. E obrigado.
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