Nunca tinha ouvido
falar de David Gemmell. Mas, por causa das felizes comunidades que se criam
entre pessoas com gostos parecidos, foi-me aconselhado este livro. Depois de
ter lido o primeiro volume da enorme saga Wheel of Time de Robert Jordan, foi sugerido que dedicasse algum tempo a
este livro, o primeiro de quatro. Que bom conselho foi esse.
A saga dos Rigante,
povo deste mundo imaginário construído por Gemmell, é um romance de fantasia à semelhança
de O Senhor dos Anéis e Guerra dos Tronos (sim, eu sei que este é
o nome do primeiro livro da Saga do Fogo
e do Gelo de George Martin). Aliás,
para ser mais preciso, no que respeita a estilo, está algures a meio destes
dois livros. Primeiro, porque a construção do mundo não é tão pormenorizada ou
obsessiva como o foi a de Tolkien. Segundo, é bastante mais fantasioso que a
famosa saga de George Martin, não se afastando da matriz mágica e mítica que
tantos fãs gostam nestes romances passados em mundo medievais imaginários. Por
outro lado ainda, existe um nível de brutalidade que pode comparar-se a Westeros mas que, a meu ver, sabe mais
ao estilo de Conan, o Bárbaro, de
Robert E. Howard. Muita dessa impressão dever-se-á ao personagem principal, Connavar, guerreiro dotado, resoluto e
implacável. Ele é também o típico escolhido pelo Destino para servir um
propósito escondido do entendimento do próprio herói e de todos à sua volta. Aliás,
se existe uma estética transversal, uma mensagem, se assim o quiserem, é
exatamente a do caminho urdido pelos Deuses. Desde o primeiro momento tem-se a
certeza (revelada e declarada) que a vida de Connavar é seguida de forma atenta pelos seres divinos que vigiam o
caminho dos homens, deuses de matiz naturalista (à semelhança da mitologia
celta, japonesa e alguns pormenores da grega), habitantes das árvores, rios e
montanhas. Outro pormenor que sublinha este aspeto é de que a todos os
habitantes deste mundo imaginário cedo é revelado por uma bruxa, uma xamã,
quais os sinais que precederão a sua morte. Um aviso de que poderão escapar a
esse destino se estiverem atentos.
Outra dos temas da Saga dos Rigante é também o da defesa de
um estilo de vida rural, da pequena comunidade local e dos costumes
tradicionais adaptados ao ambiente em que vivem. Este povo vive em harmonia com
o dia-a-dia que segue há séculos, felizes nas tradições (digamos)
anti-cosmopolitas. Contudo, descobrem que a defesa desse modo de vida exige
sacrifícios. Materiais e não só.
Não sendo uma saga
de originalidade impressionante, a escrita de Gemmell é empolgante, raramente
se perdendo em descrições extenuantes de todos os pormenores. Antes foca-se no
enredo, que se desenvolve a um passo bastante rápido (muito em oposição, por
exemplo, ao de George Martin que é glacial) e cheio de reviravoltas, o que
torna a leitura agradável e deixa-nos sempre com ansias para passar ao próximo
capítulo. Recomendável.
Sem comentários:
Enviar um comentário