Num bar esquecido no deserto aquela música continuou a tocar...
Estou sentado num canto da sala do bar, uma precária mesa de madeira à minha frente, a segurar o copo onde, insaciável, despejo sucessivas goladas do liquido rouco que vem da garrafa de aguardente deixada à minha frente por uma diligente empregada. O nome em inglês de aguardente é tão melhor. Brilho da Lua. Luar.
Na viscosa nuvem de fumo que enche a sala do bar vejo, no meio do torpor do álcool, homens tapetados de cabedal da cabeça aos pés numa dança em volta da mesa de bilhar, os tacos brandidos e usados com destreza, decididos no seu jogo, enquanto baforadas vigorosas de tabaco exalam de seu nariz e boca, envolvendo-os em abraços voluptuosos de serpentil sensualidade. Despejam quantidades pecadoras de álcool pela goela abaixo, os olhos selvaticamente perdidos no absorto do jogo.
A enjoativa luz vermelha e amarela não me deixa focar as figuras que vão e passam e deslizam pela minha frente, tudo não parecendo mais que um sonho, um devaneio açucarado da realidade. O meu coração começa a saltar num ritmado bater que acompanha a sala em prefeita sincronia, as paredes afastando-se e aproximando-se umas das outras, sincopadamente, seguramente, violentamente. Depressa me apercebo do palco, mais ao longe, mais dentro da neblina, e nele vejo homens empunhado guitarras, microfones, baixos, brandindo-os, esquecidos da sala, do bar, do deserto onde estamos. O bater ritmado era a bateria. Depressa se lhe juntam o baixo militar, a guitarra rasgada, a voz segura de verdade.
Não resisto e levanto-me para dançar e cambalear e deslizar na corrente de sons, de batidas brutas, de tempestades de areia que queimam o rosto e rasgam a pele. Sinto-me violento. Aguerrido. Forte.
E a noite passa e acordo com o delicado beijo do sol que, suavemente, passa pelas persianas mal fechadas do quarto de motel que aluguei, ao lado da bomba de gasolina perdida no deserto. Levanto-me, a tosse exalando o doce-amargo sabor da aguardente. Aproximo-me da janela e raspo a barba de 1 semana pela mão áspera e gretada. Faço algum barulho e um pequeno gemido é balbuciado no lusco-fusco do quarto. Olho para a cama e vejo-a. O corpo nu da empregada que desde o inicio me pareceu bonita demais para aquele bar sujo. Bonita demais para mim.
(E aqui está. Tudo isto para quê, perguntam vocês? Esta cansativa tentativa de criar uma narrativa com algum “ambiente” serve apenas para vos tentar passar a ideia de como podem ser as sensações de ouvir Queens of the Stone Age, um dos meus grupos de rock & roll preferidos. Rock puro. Duro. Sem desculpas. Álbuns, perguntam vocês? Experimentem Rated R, Songs for the Deaf, Era Vulgaris. E antes de irem embora daqui oiçam, por favor, o vídeo abaixo).
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